Esta noite uma insónia horrenda atirou-me para o passado fazendo-me carpir por tudo aquilo que não fiz.
Invadiu-me uma nostalgia a atirar para a agonia, intensificada pelo facto de serem quatro da manhã, de me ter deitado perto da uma com uma enxaqueca monstra e, por isso, não ter adormecido de imediato; e ainda por saber que o despertador iria implacavelmente fazer-me sair da cama às sete e um quarto da manhã.
Eu que deitei mão a tudo quanto foram oportunidades para desbravar mundos novos, que venho ao longo dos anos acumulando funções (profissionais, familiares, domésticas, sociais, artísticas, culturais e desportivas, ecc) aparentemente inconciliáveis, com uma carga horária sobrehumana, as mais das vezes com kilometros e kilometros pelo meio;
Eu que fiz todas as minhas escolhas de forma livre e consciente, e alcancei todas as metas a que me propus;
Eu que tenho um marido que me adora, que eu amo, e com quem venho construindo uma família linda, deu-me para as nostalgias do que não fiz.
Dos caminhos que não percorri. (Sou aquela que gulosamente escolhe o prato mais saboroso do menú e depois fica a cobiçar a comida do vizinho.)
Não fosse eu a verdadeira idealista, eterna insatisfeita, sedenta de vida e acontecimentos.
Assim não fosse e não teria, há cerca de dois anos, virado a vida de pernas para o ar, voltado à escola e ao estupor das avaliações, e embarcado num projecto de vida diferente.
Aquele que há 18 anos todos me adivinhavam e que eu dizia não querer.
Deu-me para lamentar as aventuras que não vivi, porque aquelas que irei recordar pela vida fora, assim me permita o alzheimer, essas não contam. Já foram.
Lamentei as loucuras que não cometi, os homens a quem não me entreguei, aqueles a quem me entreguei e que me atiraram para os ansiolíticos e as benzodiazepinas à conta das quais arruinei a porta do carro, aqueles que me desejaram em silêncio e nunca me tiveram.
Lamentei ainda ter-me estruturado de uma forma que me impediu ousar viver de forma mais ligeira, sem preocupações, e inconsequente até. Só para evitar os disparates da juventude.
Agora que por força das actuais e futuras circunstâncias, o peso das minhas acções vai estar sempre à espreita, o terror dos disparates que não fiz antes agonia-me. Hoje, pelo menos.
Porque só mais tarde percebi que não se tem 20 anos e a vida por nossa conta para sempre. E que a vida não pode ser adiada. Que não há um "mais tarde é que vai ser a sério e agora não convém".
Em rigor, este post deveria ser colocado noutro lado, mas esta inelutável tendência é mais forte que eu. E hoje deu-me para aqui.
"Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje". Sempre me disse o meu pai. Ironia das ironias...