terça-feira, 6 de março de 2012
nine eleven?
sábado, 3 de março de 2012
Medusa não se chama Medusa na vida real
ainda bem que veio a chuva e veio a chuva e choveu todo o dia, choveu por dentro e por fora das nuvens, um fenómeno rico, estupendo. é nestes dias em que chove assim que se enchem as jazidas de prata - toda a gente sabe que a prata chove do céu.
houve tempo para arrumar os livros lidos há muito mas que vão ficando. tenho três mesas de cabeceira, durmo numa trincheira de coisas.
houve tempo para escolher flores e para a extravagância démodé de levar um lenço a proteger os cabelos da chuva. que caiu o dia todo e todo o dia.
por causa de toda essa chuva os meus olhos deixaram o verde e castanho da enfermidade estética de que padecem e fecharam-se num cinza chumbo. o dia todo.
houve tempo para ir buscar mais uma garrafa do vinho que ando a beber com a devoção de quem descobriu um santinho novo - isto já não me acontecia com um Douro desde 2008, ano também bissexto, durante cujo Inverno bebi o Juliana até que desapareceu. gosto de pensar que o bebi todo, o que é ridículo se confessar que devo ter bebido menos do que uma dúzia de garrafas.
mais uma que fui buscar à chuva, de lenço à volta do cabelo e já de flores no braço. o sábado é dia de mercado e é dia de comprar flores, mas toda a gente sabe isso.
já não chovia há muito.
a chuva abranda o girar do meu mundo porque acho que não estou a perder nada em ficar mais meia hora na cama a ler os jornais com a barriga a gritar pelo pequeno-almoço. porque acho que não estou a perder nada quando falto às duas inaugurações de dois quase-amigos na Miguel Bombarda. porque acho que não estou a perder nada se colocar ordem na caixa dos meus colares. porque acho que não estou a perder nada.
deu tempo para fazer os dois telefonemas que a semana não deixou. deu tempo para dar pêsames que foram a tempo porque ainda não tinha tido tempo de perceber o que se passara. e ainda nos deu para rir e lamentar as distâncias. e de receber um convite numa voz vinda do fundo da sala do outro lado do telefone. e de dizer que sim, que no Verão nos vemos. e deu tempo para falar de todos e mandar beijos e beijos a todos e de pedir macarons coloridos (dos de Paris).
rasguei algum papel. encontrei um brinco que tinha perdido na mala. estive a rabiscar.
consegui abrir o Carm com jeito e lambi os dedos do naco do fígado de ganso quando as tostas acabaram. deu tempo de não ter que fazer o jantar, mas de ir fazendo o jantar.
o chão da minha sala é um tapete verde rodeado de pedra branca. onde existem, desmaiados, pés de copos de vinho de outras noites. e ao contrário do que possam pensar, por aquilo que sou, isso não me dói. poucos me conhecem até jantarem comigo, em casa, sem toalha na mesa que veio da casa de jantar da minha avó Carolina. que cheira a cera de abelhas e também é manchada de pés de copos de Douro.
por mais que me movimente estou sempre no mesmo lugar. sou uma árvore plantada dentro de mim.
agora chove menos. ou melhor, chove muito mas chove muito miúdo. chove em vapor, chove em tule.
todas as férias deviam começar com um dia de chuva assim.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
o dia esteve ensolarado.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
uma bala na câmara
não é virtude com que se nasça, nem conceito da razão pura.
é consequência de se ter o céu, o inferno e a terra pelo meio - tudo num cenário dentro do espírito.
partir para não voltar, apesar dos amuletos, das rezas, das promessas. manter os olhos no troféu, mesmo sem o ver. mesmo sem saber se ele vai existir. em todas as investidas, cada golpe como o último e todos com a estamina do primeiro.
o bom perder é tudo menos gostar de perder. é ter lutado sem pensar na derrota, é ter ficado na arena, inconsequentemente, até que o estoque brandido ao sol desceu sobre o pescoço latejante da fervura no sangue.
como sempre, desta vez lutei assim.
sou habituada no vencer mas, acreditem ou não, há tudo de vitória no sabor de uma derrota das minhas.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
domingo, 23 de outubro de 2011
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
terça-feira, 18 de outubro de 2011
terça-feira, 11 de outubro de 2011
nos corredores de outubro
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.
as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.
entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.
hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Midnight in... Wherever!

terça-feira, 4 de outubro de 2011
da síndrome dos sapatos de verniz e meias até ao joelho
chegou a horas. o que significa que teve a atenção de se atrasar cerca de seis minutos. vestia de alfaiataria, a camisa era engomada e os botões de punho discretos. o sorriso era ainda de rapaz, pois que aos homens é inato conservar o ar descontraído da juventude. formal, mas sem demandar criados de libré.
vamos conversar?
perguntou-me pelo sobrenome e ficou feliz por me situar entre os seus pares.
os sorrisos encontraram-se, cegos da diferença de idades.
não surpreendeu pela gentileza nas portas e na escadaria, passando depois de mim nas primeiras, adiantando-se na descida da segunda para amparar a eventualidade da minha queda.
presumo que a nossa demora tenha gerado alguma apreensão àqueles a quem ele dá sono. quando demos pelas horas, já todos nos esperavam para o almoço. estávamos tão bem. estávamos tão bem no meu entusiasmo que se lhe pegou, com a sua serenidade a assistir, feliz, aos meus lampejos de olhar num futuro maior que o dele. foi com pena que nos despedimos daquele gabinete.
quando lhes tomo amizade estimo-os como a um aparador herdado. um verdadeiro aparador aparece-nos depois de anos de chocolates. de amêndoas confeitadas. de caixas de chá. há um número mínimo de latas de shortbread ou buttercookies que têm que se suceder. o açúcar deve permanecer nos três açucareiros por várias estações e ser sempre acrescentado. nas gavetas, as toalhas têm que misturar-se com as velas de aniversário que já ouviram as suas palmas e guardaram o desejo pensado naquele momento do sopro. partidas mas seguras pelo pavio sem arder. não dispensa as duas marcas redondas da garrafa de vinho do porto a manchar a prateleira, escondidas debaixo da caixa do faqueiro.
gostei tanto de conversar com ele.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
isto começa a ficar meio estranho... não achas, António?

sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
às 5, chá.

- ...
- é. é assim, filha.
- ... sempre?
- sim, linda. o homem que ama não é o homem que volta. é aquele que, simplesmente, não se vai embora.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
recordo a manhã para aguentar a noitada de trabalho

- olha, uma máquina de nuvens!
- não querida, aquilo é uma fábrica...
- não! não! é uma máquina de nuvens!
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
a mais gélida das guerras frias
até àquela segunda-feira em que apareces com um vestido que elas adoram mas que só a ti fica bem.
