sexta-feira, 16 de abril de 2010

Toda a verdade sobre os post-trinta



Um dia tem-se vinte anos e anda-se por aí a sonhar com a independência e com tailleurs com ar sério e de repente passou-se dos trinta anos e nós estivemos demasiado ocupadas a viver os últimos dez para nos darmos conta disso.
Aqui ficam os sintomas para que as almas mais distraídas não sejam apanhadas desprevenidas a tentar equilibrar-se sobre duas pernas dormentes:
Se subitamente todos a começarem a tratar por minha senhora, isso não significa que todos tenham ficado mais bem-educados.
Se nos jantares com amigas mais novas lhe estenderem a si a carta e lhe derem o vinho a provar, isso não significa que seja a mais bem vestida.
Se o homem da frente começar a olhar muito para as suas mãos é mais provável que esteja à procura da aliança do que a admirar a sua manicure francesa.
Se estiver à procura de umas meias porno-chic e depois de avisar a empregada que procura umas meias especiais lhe perguntarem se pretende uns collants de descanso, isso não significa que ela pense que é hospedeira de bordo.
Se de repente o seu metabolismo deixar de conseguir absorver quantidades industriais de haagen dazs chese cake, petit gateau e bolinhos de queijo, pode não ser uma conspiração organizada pela indústria de medicamentos de emagrecimento.
Se o puto de vinte anos com ar cool passar por si e não lhe ligar nenhuma, pode-se dar o caso de ele não ser necessariamente homossexual.
Se de repente começar a receber mais convites com fotografias de crianças e cegonhas com anjinhos do que motivos florais gravados em cima do símbolo das alianças, isso não significa que Portugal esteja a viver um Baby boom em versão gravidez precoce.
Se a empregada da fashion clinic a olhar de lado enquanto você se decide por aquela mini-mini saia impossível, saiba que pode-se dar o caso de a senhora não ser um empedernido e conservador membro da Opus.
Se der por si a erguer o sobrolho com ar reprovador todas as vezes que um homem não a deixar passar a frente ou não lhe segurar a porta, pode-se dar o caso de não ser apenas porque está habituada a pessoas civilizadas.
Se conseguir beber dois terços de uma garrafa de vinho tinto e levantar-se da mesa com o mesmo ar natural com que se sentou, é possível que tenha tido o tempo suficiente para habituar o seu organismo ao álcool.
Se der conta que já leu oitenta da lista dos cem melhores livros de sempre, considere a possibilidade de tal não se dever apenas ao facto de ler depressa.
Se souber de cor a letra do sobe, sobe, balão sobe, isso não significa necessariamente que tenha sido uma criança prodígio daquelas que decoram letras de música com apenas um ano de idade.
Se quando alguém lhe falar num fim de semana de campismo concluir que lhe dava mais jeito partir os dois pés do que ir agora enfiar-se num forno de lona a servir de jantar de formigas tenha presente que pode ser mais do que um súbito trauma anti-escuteiros.

2 comentários: