terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conversas imaginárias com Deus



Deus - Minha filha, deves ver os acontecimentos dos últimos tempos como provações…
C - Não me lembro de ter enviado currículos para o lugar de Job. Além disso já tenho emprego. Por falar nesse assunto, vai-te embora que preciso de trabalhar.
Deus - Não depende de candidatura. Todos são criaturas de deus e deus estende a todos as provações que entende.
C - Reparo que falas de ti próprio na terceira pessoa. É complexo de jogador de futebol ou é mesmo por seres um cobardolas que pretende desresponsabilizar-se disfarçadamente?
Deus - As provações são minhas. A responsabilidade pelas escolhas é tua.
C - Oh, cala-te. Tu geres um tasco ordinário de prato único. Estou farta da tua moralidade requentada.
Deus - A moralidade, minha filha, é um antídoto contra o niilismo.
C - És mesmo impostor. Foi o Nietzsche quem disse isso. Se pensas que vens para aqui enganar-me com essas conversas pseudo-intelectuais…
Deus - Não te peço o sacrifício de Abraão, ou a fé de Job, só te peço que te voltes para mim.
C - Abraão era um assassino que deveria ter sido condenado. Job, um fanático afásico. E eu, eu preciso de trabalhar.
Deus - Recuso-me a desistir de ti.
C - Até podes enviar as pragas do Egipto. Já antecipei esse golpe baixo e enchi a despensa com frascos de insecticida.
Deus - Um dia acabarás por me pedir ajuda.
C - lá-lá-lá-lá. Não estou a ouvir nada. Lá-lá-lá-lá. Não estou a ouvir nada.
Deus - Tarada de um raio! Estou a ficar farto desta gaja.
C - Doutora Gaja, se fazes favor.

Adenda à astrologia reversa



E no último dia do mês, quando pensar que já nada pior lhe pode acontecer, os mortos erguer-se-ão das trevas e caminharão, trôpegos mas decididos, na sua direcção.

Consciência de classe 4



415
Love.— The idolatry that women practice when it comes to love is fundamentally and originally a clever device, in that all those idealizations of love heighten their own power and portray them as ever more desirable in the eyes of men. But because they have grown accustomed over the centuries to this exaggerated estimation of love, it has happened that they have run into their own net and forgotten the reason behind it. They themselves are now more deceived than men, and suffer more, therefore, from the disappointment that almost inevitably enters the life of every woman—to the extent that she even has enough fantasy and sense to be able to be deceived and disappointed.

Nietzsche, in Human, All Too Human: A Book For Free Spirits

Noutros tempos, eu até poderia ter concordado com Nietzsche. Nestes, limito-me a registar o facto de o site de onde retirei este excerto ter, na coluna da esquerda, várias obras do autor traduzidas para inglês e, na coluna da direita, quatro esclarecedores anúncios (Ads by Google):

Chinese Girls For Love
Sincere China Girl Seek True Love and Marriage. Join to Find Her!
www.ChnLove.asia

Beautiful Chinese Women
Chinese Women For Dating & More, Join Free & Find Your Match Today!
www.asiamatchonline.com

Wagner`s Ring Motifs
An Audio Book Narrated by Sir John Tomlinson
www.auricula.de/Wagner-Ring-Motifs

Is Jesus Really God?
Scholars Examine the Facts About Jesus' Claims to be God
www.Y-Jesus.com/JesusGod

Ora, eu sou uma daquelas pessoas que acham que os anunciantes nunca erram o alvo dos seus potenciais clientes. E, parecendo que não, estas ofertas publicitárias já nos dizem o suficiente sobre o estado decadente a que chegaram os seguidores de Nietzsche.
(Tirei os links dos primeiros dois anúncios para evitar ser acusada de publicitar prostituição).

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Esta semana, lá no meu trabalho (Quando a realidade supera a ficção)


- Eu dei um pontapé para o ar. Mas não atingi essa senhora.
- hummm…
- Só queria enxotá-la para fora da minha casa.
- humm…
- E antes pedi-lhe que saísse. Ela é que não saiu!
- humm…
- Posso ter-lhe acertado. Mas foi por acidente.
- hum…
- Pelo amor de deus! V. Exª ouviu a mulher!!! Aquilo é de fazer perder a paciência a um santo!
- hum!
- Pronto! Eu admito! Dei-lhe o pontapé mas não lhe dei o murro!

domingo, 28 de novembro de 2010

A honestidade compulsiva tem como efeito colateral o cinismo

Roubado sem permissão, daqui, ao maravilhoso Ouriquense, provavelmente o melhor Blog português:
A honestidade como insídia
Sábado, 20 de Junho, 2009
Quem foi traído ou se atraiçoou tem duas evoluções possíveis: ou se torna cínico ou fica possuído por uma honestidade compulsiva. O cínico não é interessante. Por outro lado, o honesto compulsivo é uma figura muito curiosa e a situação do casal composto por dois honestos compulsivos deveras peculiar. Para o leitor inexperiente, este parece ser um cenário idílico. Na verdade, é um inferno. O casal estável ideal faz-se de um honesto compulsivo e de um mentiroso de talento, pois o segundo sabe abortar a escalada de honestidade sem que o primeiro se aperceba. Com dois honestos compulsivos não existe este mecanismo regulador. Cada um conta tudo ao outro, dos segredos mais inconfessáveis às dúvidas mais irrelevantes. A honestidade é vivida com fanatismo. Mais vezes juram um ao outro que jamais mentirão do que trocam juras de amor. E na exposição daquilo que lhes é mais íntimo são implacáveis. Cruéis. Como se na privacidade não houvesse direito à privacidade. Tudo em nome da honestidade que julgam ser a salvação, mas que irremediavelmente os afastará.

Manhãs



Esta manhã, da mesma forma que se acorda com frio, com fome, ou com dor, eu acordei com felicidade.

No meu sonho, estavas ao meu lado numa estrada de terra batida e largavas balões de hélio, de várias cores, para me mostrares o céu, assim enfeitado.

Quando todos os balões se libertaram na atmosfera, deste-me a mão e levaste-me para dentro de casa.

Depois, comigo sentada no teu colo, redesenhaste, a giz, os mesmos dois bonecos que apaguei no dia em que te quis apagar a ti.

No meu sonho, havia uma inédita harmonia entre nós. Finalmente, tinhas-me assumido na minha condição de criança.

sábado, 27 de novembro de 2010

avisos à navegação


Muitas mais vezes do que imaginam, deixo que pensem que estão a conseguir enganar-me.
O exercício serve dois propósitos: óbvia estratégia de gestão da relação humana em causa e triste gáudio pessoal ao ve-los fazer o papel de palhaço que pensam estar a ser desempenhado por mim.


Quando acaba o espectáculo, a desilusão existe. Não nego.
O que não há é surpresa. Nenhuma.
O que lamento. Muito.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Astrologia reversa ou Novembro, esse mês horribilis




Devido ao trânsito de um planeta qualquer indefinido sob a sua casa do sol, Novembro será um mês com propensão para a instabilidade, podendo, inclusivé - especialmente entre os nascidos no segundo decanato - levar a acontecimentos trágicos.
Os únicos dias positivos do mês serão os primeiros, altura em que se encontra facilitado um infantil optimismo introspectivo que lhe permitirá reconsiderar a sua posição em face do amor.
Infelizmente, a presença do tal planeta qualquer indefinido fará com que este estado não dure mais de dois ou três dias, vindo a ser destruído por circunstâncias externas à sua vontade. Essas circunstâncias, que serão o resultado de uma qualquer teoria do retorno, justificam-se por qualquer coisa que fez e não deveria ter feito ou qualquer coisa que deveria ter feito e não fez, e manifestar-se-ão através de traições ou ataques imprevistos ou profundas decepções com pessoas próximas de si. (No caso dos nascidos no segundo decanato, em vez de “ou” deve ler-se “e”).
A partir da segunda metade de Novembro, o cruzamento de dois planetas quaisquer indefinidos e incompatíveis propicia um agravamento geral do inferno astral, estando favorecidas situações bizarras, a aconselhar a que se deite numa cama com a porta do quarto trancada e se recuse a sair até que o mês acabe.
(No caso dos nascidos no segundo decanato, nem sequer este procedimento adiantará já estão previstas invasões interiores com duendes imaginários que o incomodarão onde quer que se esconda).
Não desespere. Quando o mês terminar e o planeta qualquer indefinido se mudar para a casa de outro desgraçadinho, você será uma pessoa ainda mais céptica, pragmática e difícil e pode juntar todos esses factores em seu favor, evoluindo no sentido de se transformar numa pessoa verdadeiramente cínica.
Avisam-se os nascidos no segundo decanato que, caso não tenham aprendido a lição, vão ter um mês de Dezembro pior que o de Novembro e morrerão antes de 2011.
Amor: Não o encontrará.
Saúde: Dores de cabeça, ataques cardíacos e cólicas.
Dinheiro: Até o seu subsídio de férias se vão esquecer de lhe pagar.

Bens de primeira necessidade


O Homem Insuportável (Último Acto)

Aos que ficaram com o coração tolhido de peninha do Homem Insuportável, ou seja, a ti Medusa, informa-se que o desprezo de Cuca contribuiu para a formação de mais uma família feliz.
No espaço de um mês, o nosso Homem Insuportável encontrou a almejada felicidade conjugal ao lado de uma imigrante ilegal e anunciou ontem aos amigos que vai ser pai.
Segundo explicou, a partir do dia em que foi violentamente despachado por Cuca ("violentamente" é mera citação que não traduz qualquer intenção confessória por parte da autora), passou a ver a vida de outra forma, tendo-se transformado num novo homem (a autora diria, talvez num "homem", vá!).
Cuca ficou genuinamente feliz pela felicidade do Homem Insuportável, da Imigrante ilegal, da futura criança (que até pode ser que seja filha do Homem Insuportável, mas que se prevê que nasça de sete meses e gorda) e congratula-se pela sua capacidade de alterar radicalmente o destino das pessoas, fazendo-as felizes, ao não se envolver com elas.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ou isso, então



Tinha um outro texto sobre Nietzsche, mas depois pensei melhor e resolvi fazer antes um post sobre sapatos. No fundo, é tudo a mesma coisa.

infinita paciência

(…)Quem quer adquirir a sua alma na paciência conhece que a sua alma não lhe pertence, que há um poder em subtracção ao qual ele tem que adquiri-la, um poder a partir do qual ele tem de adquiri-la e que ele mesmo a tem de adquirir. Ele nunca abre mão da paciência, nem mesmo quando a adquiriu, pois foi a paciência que ele adquiriu e, mal abandone a paciência, abandona também a aquisição; mas ele também não abre mão da paciência quando parece que o seu esforço foi gorado, pois, na medida em que o for, ele bem sabe que a razão tem que ser esta: que a paciência não era adequada ou que a razão foi a impaciência. Quer ele, portanto, adquira a paciência no terrível instante da decisão quer a adquira lentamente, é na paciência que ele adquire a alma(…).
In Soren Kierkegaard “Adquirir A Sua Alma Na Paciência”, Assírio & Alvim.

Perder a alma na impaciência, apesar de revelar uma indesejada desobediência a Kierkegaard, sempre é uma coisa mais bonita do que, por exemplo, vendê-la ao diabo. A parte chata é que entre perder um objecto ou vendê-lo, toda a gente sabe que a segunda é francamente mais gratificante.

Traças

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

supresas

olho pela janela e vejo que é verdade, o natal está mesmo ali em baixo, a olhar para mim com um daqueles sorrisos festivos de quem sorri por sorrir, de quem sorri de feliz. de quem sorri porque chegou. de quem sorri porque encontrou o que já nem procurava mais.

quis agarrá-lo mas ele diz-me que ainda faltam umas semanas.
não aceito.

ando a querer que seja natal. todos os dias.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nasceu uma Estrelinha



Bem-vinda, C.

Metros quadrados de uma estória devoluta

Uma rua cheia de árvores nuas, carros e pessoas com sacos. E os presentes dentro dos sacos a passarem pela minha ausência. Encostada à porta. Daquilo que também foi a tua casa. Em breve já nem sequer casa de ninguém. Agora cada vez mais vazia. Com a miúda atrasada para me devolver as chaves. E a minha voz sumida ao telefone a dizer que sim que esperava. A ausência de mim encostada à nossa porta. Ao que foi a tua porta. Sem sacos com presentes. À espera. Talvez à tua espera.
- Podemos subir agora?
A miúda a abrir-me a porta da minha casa. À minha frente. A dar-me tempo para reconhecer o elevador onde me começavas a abraçar. E eu a mover-me lentamente. Incapaz de carregar no botão certo. Seria o C ou o D? Foi há tantos anos. E a miúda cheia de pressa e de sacos. A estranhar a minha lentidão. Foi ontem. A minha recusa em sair do elevador. A respiração cada vez mais lenta.
Como uma velha.
Ela a abrir a porta de casa. E eu a fazer o favor de entrar. Para receber as chaves. Talvez ainda as que mandei fazer para ti. Talvez as que viveram dentro dos teus bolsos. E a mesma cómoda onde as deixavas cair à entrada. O barulho que me anunciava a proximidade dos teus braços. Agora apenas a avisar da partida de uma miúda. A casa já vazia. Com a porta do quarto entreaberta a atirar-me à cara um colchão despido.
- É melhor conferir para ver que está cá tudo.
E eu a olhar para a miúda. A saber que não estava lá nada. O espaço dos teus fatos no roupeiro vazio. Eu a não resistir a abrir a porta do roupeiro. Como se pudesses ter voltado na noite. Na minha ausência. Um presente dentro de um saco.
A miúda a querer entregar-me uma caixa cheia de cartas por ler. O teu nome nas cartas. Com pressa para me devolver a casa. Sem perceber o meu olhar decepcionado para o roupeiro. Para o colchão despido. Para a vista das traseiras. Para o candeeiro apagado.
- Está tudo como quando cá entrei.
E não estava nada como quando saímos dali juntos. Para uma outra nossa casa. Onde os teus fatos ainda apodrecem. E ainda há cartas com o meu nome. Mas onde já não deixo chaves em cima da cómoda.
E eu a dizer que sim à miúda. Que estivesse tranquila. Que só não sabia o que haveria de fazer agora com aquela casa. Com os meus metros quadrados de passado devoluto. O meu corpo a deixar-se cair em cima do banco da entrada. Ou da tua saída. A mesma mão indecisa entre afastar a caixa das cartas ou as lágrimas da cara. Que haveria de tratar disso depois. E a miúda, cautelosa, com a vergonha de quem ouve uma conversa íntima de terceiros.
- Podemos descer, então?
E eu a dizer-lhe que sim, que estava pronta para ir. Mas a permanecer na imobilidade absoluta. Dobrada sob o peso excessivo do meu casaco de viúva. As costas da mão a afagar uma parede fria. As tuas costas nessa parede. Como na noite em que me despedi de ti.
E depois, eu própria a querer acabar com aquilo rapidamente. A sacudir as mãos. A trancar a casa vazia. Com as chaves dela. As tuas chaves. A virar as costas aos restos mortais da nossa existência. A fingir procurar coisas dentro da mala. A evitar encontrar-me no espelho do elevador. A esquecer-me da miúda. A descer para uma rua cheia de árvores nuas, carros e pessoas com sacos. E presentes.

A trancar a dor da tua fingida ausência.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Habilidades



Equilibrismo é um termo genérico que abrange uma ampla gama de habilidades físicas que envolvem a capacidade de manter o equilíbrio.
Alguns exemplos exibições (normalmente
circenses) de equilibrismo são a manipulação de malabares, balizas, monociclo, perna de pau, funambulismo (corda bamba), devil sticks e algumas acrobacias.
In Wikipedia

Na arte do equilibrismo, a minha preferência vai, claramente, para o funambulismo. A corda bamba, a uns bons metros de um solo pejado de feras é uma espécie de habitat natural cuquiano.

Here we go again...


almas

a questão de se partilhar música é que ela tem, na saudade,
o mesmo efeito do sal na ferida.

sábado, 20 de novembro de 2010

manhã de natal

vi-te esta noite. debaixo de chuva. maltrapilho a olhar para a janela do primeiro andar. a tremer de frio. a querer tanto entrar. tanto. a saber que nunca te vão tratar tão bem como aqui. a querer. tanto. desci. olhei-te nos olhos e disse: sobe. estiveste horas com um pé na soleira. e o outro atrás. a chuva sempre a cair. o quente que te chegava ao rosto das lareiras acesas dentro de casa a fazer-te querer mais. o cheiro de casa. tanto querer. em camisa, eu já não ia suportar o frio por muito mais tempo. estendi a mão algumas vezes. viraste as costas e desapareceste no escuro do laranjal que começa a seguir ao tanque.
acabei por adormecer. gelada. não sei por quanto tempo. já havia luz no quarto quando me virei e encontrei os teus olhos. abertos. a decorar-me os cabelos. sorriste. disseste que era bom estar em casa.

Consciência de classe 3




Se tiveres estudado os racionalistas, os existencialistas e os niilistas ele acusar-te-á de não o conheceres. Se fores aluna de Paulo Coelho e companhia, limitar-se-á a ser ele próprio, ao teu lado.

Linguagem avatar


Estava eu ligeiramente obcecada com o meu recente historial errático em matéria de avaliação de personalidades, quando me apercebi das razões do meu logro.
Temos os SMS, o Facebook, o MSN, o Skype, o Google e os Blogues como formas de não comunicação. São muito úteis na arte de camuflar a clarividência de um sorriso, ou da sua falta, em enigmas linguísticos que, vai-se a ver, não querem dizer rigorosamente nada.
Nalguns casos, o vício intensifica-se ao extremo de o virtual se estender aos próprios sentimentos, como se a forma de expressão levasse a melhor sobre a mensagem. É a emoção à distância de um on, ou de um off, consoante as conveniências do instante. E não falta quem escolha viver a vida como se fosse um avatar de si próprio.
Quando se trabalha com a verdade, sabe-se bem os equívocos que se evitam quando se perde a paciência para os sinais de fumo e dois pares de olhos se encontram na mesma dimensão.
Eu não perdi nenhuma das minhas capacidades de avaliadora de personalidades. Só não estava desperta para a necessidade de refazer a fórmula, introduzindo-lhe o factor “esquizofrenia avatar”.

Manhã de sol numa esplanada em cima do mar



O café vem sem o adoçante e o pastel de nata vem com a inútil canela. Não tento corrigir o empregado de mesa. Se não aprendeu em seis meses, é pouco provável que venha a aprender algum dia.
A minha melhor qualidade é a capacidade de resignação perante a incapacidade alheia.
As duas mulheres, sentadas do meu lado direito, dividem a atenção entre um bebé e um cão. Um dos dois faz uns ruídos irritantes que perturbam a concentração exigida pela profundidade estonteante das imagens da revista Elle. Ergo o sobrolho para o cão, em quem deposito mais esperanças do que na criança que se vinga de mim soltando um guincho animalesco. As duas mulheres acham graça.
Atrás de mim, sentado sozinho numa mesa, está um homem que faz telefonemas consecutivos a mulheres diferentes. O meu café ainda está a meio e já ele acordou três. Sempre com o mesmo tom de voz. Dispensa a todas o tratamento por menina. E a todas queria apenas ser o primeiro a dar-lhes um beijinho de bom dia. Pergunto-me se será um novo serviço telefónico, daqueles que se subscrevem através de uma assinatura mensal. A voz melosa desvanece-se rapidamente quando decide desancar o empregado que trocou o pão caseiro pelo pão de forma. Ao contrário de mim, este homem não tem nenhuma capacidade de resignação perante a incapacidade alheia.
À minha frente sentou-se o casal típico desta esplanada. Vejo-o todas as manhãs de sábado, encarnado em diferentes corpos. Ele é inglês, velho e mais ou menos rico. Ela é uma portuguesa, normalmente agente imobiliária. Faz uma eficiente utilização do inglês deficiente para tentar convencer o velho que está interessada nos problemas dele. É solícita na tradução ao empregado do pedido de um café sem leite. Quando se quer um café sem leite, pede-se um café. Toda a gente sabe isso. Aposto comigo própria que o inglês acabará por beber um café com leite e, dez minutos depois, devo-me cinco euros. Estes dois ainda não dormiram juntos. Mas se ela não tiver capacidade de resignação perante a incapacidade alheia, uma conhecida marca de comprimidos azuis acabará por lhe patrocinar uma deprimente noite de sexo num aldeamento algarvio.
Para um sábado de manhã, toda esta exibição de existência humana parece-me excessiva e despudorada. Desisto da exigente actividade mental de ver fotografias na revista Elle, decido voltar para casa e peço a conta.
O cão aproxima-se para me avisar que deveria subscrever um desses modernos serviços telefónicos de bons dias menina, acreditar nas potencialidades do sexo com ingleses idosos e levar para casa um bebé guinchador.
O empregado engana-se e traz-me a conta das duas mulheres. Eu pago-a em silêncio.
Afinal, a minha melhor qualidade é a capacidade de resignação perante a incapacidade alheia.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

duendes pululantes


Como se não me bastassem as insónias crónicas, ultimamente, as minhas escassas horas de sono são conspurcadas com duendes pululantes. Fui investigar a cura e dei de caras com o prenúncio:

Os duendes são personagens animadas da mitologia europeia e são semelhantes às fadas e aos goblins. Nos sonhos, as loucuras que os duendes cometem podem conduzir o sonhador à pobreza e, como tal, devem estar o mais atento possível a todos os problemas que possam surgir.
• Ao sonhar que vê duendes, isso significa que poderá ter problemas com o que parece ser um prazer momentâneo;• Ao sonhar que você é o duende, isso quer dizer que a loucura das suas ações podem conduzi-lo à pobreza
.

In Sonharcom.com

Não estando certa que nos sonhos não seja, eu própria, um dos duendes pululantes, fico na dúvida sobre o meu destino: Uma pobre louca ou uma louca pobre?

Eu conto-te como foi

Como uma lâmina que invade um corpo incrédulo
que não se sabe baixar para receber a facada,
nem se deixa escorregar por uma parede fria,
recusando-se a deixar atrás de si uma mancha
vermelha

e sem a graça de, por um mísero instante, perder a noção da realidade,
um corpo a descodificar lentamente uma informação
que a mente, virgem daquela espécie de dor,
não pode, não sabe reconhecer

embrulhada numa nova forma de violência
(a gratuita, a inútil, a bárbara)
com o vício a obrigar o corpo a erguer-se,
a mesma expressão resignada de outros cadafalsos
embrulhada numa velha forma de dignidade
a esconder as feridas nos casacos de pele.

Só porque as minhas margens não coincidem com o boneco
traçado a giz no chão da estrada,
Não significa que o sangue que corre não seja o meu.

E se foi há tantos dias,
E se foi tão gratuito, inútil e bárbaro
Porque é que eu ainda não consigo respirar?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Admito

Talvez devesse ter batido à porta em vez de a tentar arrombar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Consciência de classe 2



Consta que Cesare Pavese terá escrito em Il Mestiere de Vivere que "Uma mulher que não seja idiota, mais cedo ou mais tarde, encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Mas uma mulher que não é uma idiota, mais cedo ou mais tarde, encontra um homem são e redu-lo ao estado de farrapo. Consegue-o sempre."
Não sei nada sobre isso. O que sei é que um homem idiota, quando tenta salvar uma mulher, consegue sempre transformá-la num farrapo.

Coisas más que o Inverno traz

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Grandes Filósofos


After all...tomorraw is another day.
Scarlett O´Hara, in Gone With the Wind

domingo, 14 de novembro de 2010

Bens de primeira necessidade


Explica-me, enquanto trocas de camisa


Explica-me
Se foi por mera conveniência semântica que chamámos amor à guerra…
Se jamais qualquer um dos dois se contentaria com menos do que a total anexação do outro…
Se o instinto genocida sobreviveu ao armistício posterior à divisão de territórios…
Explica-me
A expressão de mártir apátrida, a dor vazia nos olhos, o torcer das mãos de gigante,
Só porque regurgitei o teu coração e to servi, assim, mastigado
Numa bandeja de prata,
Design Versace.

truques de sempre





1. homem bonito com criança.
2. homem bonito com cachorro.

sábado, 13 de novembro de 2010

Parábolas mais que perfeitas


Kafka emendado
Diante do Amor está um porteiro. Um homem aparece e pede para entrar. O porteiro não autoriza. O homem pergunta se pode entrar mais tarde. O porteiro diz que talvez. O homem espreita pela porta aberta. O porteiro desafia o homem a tentar entrar, avisando que depois dele estão outros guardas, cada vez mais fortes. O homem desiste. O porteiro oferece uma banqueta ao homem, para que ele espere sentado. Espera anos e anos. Tenta súplicas e subornos. O porteiro aceita os subornos, «para que não penses que houve alguma coisa que não tentaste». Mas não deixa o homem entrar. No fim da vida, o moribundo faz ao porteiro uma pergunta que nunca fez: «Se todos aspiram ao Amor, porque é que durante todos estes anos mais ninguém tentou entrar?». O porteiro responde: «Aqui não podia entrar mais ninguém, porque esta porta era só para ti. E agora vou fechá-la».
Pedro Mexia, in Estado Civil, aqui

Consciência de classe 1


Há as mulheres que inspiram as obras. E há as mulheres que recebem a dedicatória das obras inspiradas pelas outras. E, sendo-se mulher, faz-se sempre parte de uma destas duas classes.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sobre a verdade



E depois as pessoas ficam presas numa realidade moral paralela. A verdade confunde-se com brutalidade ou ingenuidade. A mentira é servida como se fosse o último grito da boa educação. Há os contextos, os cenários, as especiais razões, os valores mais altos. A relativização ao serviço do adormecimento da consciência. Uma neo-verdade. Uma ego-verdade. A mentira que mais convém.
E há também a indignação do incompreendido. Uma expressão no rosto muito própria de quem, em confronto com a mentira, tenta explicar que a sua verdade é um amiguinho imaginário.
Estou demasiado familiarizada com esta expressão. Odeio-a.

Quando o telefone toca


Habitualmente, o visor do telefone só revela este emissor quando há lágrimas pelo meio.
Vindas do outro lado, com queixume e lamentações.
Aliás, daquele lado, ao longo de cerca de 35 anos, sempre só ouvi lamentações.
Não lhe duvido da natureza dos sentimentos, embora tal de pouco valha se no mundo exterior praticamente tenho que os adivinhar.
A não ser que me venham pedir colo. E fazer queixas, e carpir mágoas alimentadas a delírios e obsessões.
Ontem foi mais ou menos assim. Embora a coisa tenha soado a expiação de culpas.
O móbil? A história do puto que pede € 15,00 emprestados ao pai para lhe comprar os € 30,00 que ganha por hora contra o regresso a casa uma hora mais cedo.
Aquele que, residindo a 2 km, não faz visitas, não procura nem dá notícias, a não ser quando se distrai muito, desfez-se em lágrimas ao contar o emocionante postal informático que qualquer outra alma atormentada lhe fez chegar.
E pronto, interrompidas que foram cerca de 3 ou 4 semanas de silêncio, considera-se feito o refresh.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

You don´t know me from the wind

(…)
You don't know me from the wind
you never will, you never did
I was the little jew
who wrote the Bible
I've seen the nations rise and fall
I've heard their stories, heard them all
but love's the only engine of survival
Your servant here, he has been told
to say it clear, to say it cold:
It's over, it ain't going
any further
And now the wheels of heaven stop
you feel the devil's riding crop
Get ready for the future:
it is murder.


There'll be the breaking of the ancient
western code
Your private life will suddenly explode
There'll be phantoms
There'll be fires on the road
and a white man dancing
You'll see a woman
hanging upside down
her features covered by her fallen gown
and all the lousy little poets
coming round
tryin' to sound like Charlie Manson
and the white man dancin'.


Give me back the Berlin wall
Give me Stalin and St Paul
Give me Christ
or give me Hiroshima
Destroy another fetus now
We don't like children anyhow
I've seen the future, baby:
it is murder.

The Future, Leonard Cohen

Momento de pânico facebookiano

Veio o primeiro convite de amizade. Rejeitado em trinta segundos num gesto automático. Passaram-se três meses. Veio o segundo convite de amizade. Rejeitado num minuto após demorada consideração sobre o assunto. Passaram-se outros três meses.
Ontem, finalmente, chegou a mensagem.
Emoldurada por uma fotografia de pai babado com a cria nos braços.
Dizia assim:
Olá. Não apagues esta mensagem antes de a ler. Descobri-te através do facebook e quero muito falar contigo.”
Juro que durante dois minutos fiquei paralisada por este pensamento:
- Será que o puto é meu?
Fui homem durante dois minutos. Não gostei nada. Descobri que se sua muito.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

COULROFOBIA



Calço os meus sapatos de palhaço. Enfeito o rosto com a tinta branca. Disfarço o roxo das olheiras. Da cor dos mortos. Desenho na boca um sorriso vermelho. Invento-o do tamanho do mundo. Abotoo um fato de cetim azul. Da cor do céu. Visto um laço de bolas douradas. Sobre o nó da minha garganta.
Calço os meus sapatos de palhaço. Inspiro os gritos impacientes da multidão. Expiro o ar saturado dos camarins. Deixo cair o espelho no colo. Ensaio uma entrada de artista. Oro a um deus que não paga bilhete nem trouxe convite.

O trapézio foi montado. Os pescoços estão voltados para o céu.
A tenda é grande e é minha. E a plateia ainda não a vê arder.
Calço os meus sapatos de palhaço.

Meninos e Meninas, bem-vindos ao maior espectáculo do mundo.

homenagens destas, atirava-as ao lixo


Só esta noite tive a oportunidade de folhear o último dos quatro livros técnicos que comprei no Domingo. Nome próprio do autor: Salvador.

Achei peculiar que a dedicatória fosse “À Teresa e à Rita, pelo pouco que lhes dei do muito dado ao trabalho.” .

Corrijo: achei repugnante.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Descobertas interiores


Descobri-me um novo estado de espírito:

Cabides vazios.

domingo, 7 de novembro de 2010

Há um hotel dentro de cada um de nós




Às vezes queria ser um simpático e simples parque de campismo.
Mas sou o Ritz...
Não é nada fácil ser-se o Ritz.

sábado, 6 de novembro de 2010

Postal aberto ao Mak, o Mau





Querido Mak,


Um touro marreco; quatro cobardes pendurados em varandas (um deles vestido com um suspeito modelito muito Gaultier); um homem em perseguição aos tipos das varandas e uma velha amuada a assistir à cena, é de uma tal profundidade existencialista que não está ao alcance de qualquer um.
Felizmente para ti, eu li todos os livros daquele tipo dinamarquês cujo apelido acaba em gaard e consegui perceber que, através do postal que generosamente me enviaste, falas da angústia ontológica contida na libertação do viver em confronto com o ser.
Também não me passou despercebida a tua explicação do absurdo da existência através do non sense, o que, terás que concordar comigo, faz de ti um patafísico.
Para te agradecer o facto de me teres livrado de uma existência de trevas, procurei arduamente o postal mais feio alguma vez publicado na net.
Este não é o mais feio, mas é o mais assustador. Evoca um lânguido capuchinho vermelho decidido a tourear o lobo mau, num género “o mundo ao contrário” que acho que vai fazer o teu estilo.
Parabéns pela “iniciativa fantástica” que copiaria, não se desse o caso de ter amor ao dinheiro e crença na ingratidão humana.
Abracinho,
Cuca

tábuas corridas enceradas. sem brilho.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Salas



São nove e cinco da manhã. As portas abriram-se há cinco minutos.

A sala ainda não tem o ar esgotado que terá no final da tarde. O chão ainda está limpo. E uma criança vê-se ao espelho nele. Baloiçando o corpo na direcção do seu reflexo cor-de-rosa-pastilha-elástica. Há uma mulher negra e decidida que será a mãe da criança. Ou a tia. Porque a mãe da criança há-de ter partido para um lugar qualquer. Normalmente é assim.
A tia e a miúda esforçam-se por não ver a cigana, pesadamente, sentada ao lado. Tem o percurso das lágrimas vincado num rosto enrugado e, esta sim, seguramente é uma mãe. Mãe de um filho que está fechado numa outra ala do edifício. Onde o chão nunca está limpo, nem sequer de manhã. E onde nunca ninguém se consegue ver ao espelho. A mãe não veio ali fazer nada. Nada que não seja olhar para o seu filho que, de costas para ela, optará pelo silêncio. Por entre a silhueta escura do filho rogará pragas àqueles que, na sua percepção, são os algozes de um inocente que só vendia uns produtos que dizem que é droga mas que também pode não ser e que nunca fez mal a ninguém e que um homem tem que fazer pela vida.
Por ora, a cigana espera.
Todos eles esperam.
A quatro metros de distância, um homem de quarenta anos e fato italiano desespera-se ao telemóvel com uma secretária que não consegue encontrar qualquer coisa dento de uma pasta que é azul escura e tem na lombada o nome do cliente com letras gordas. Ele desliga a chamada anunciando que tem a mulher em linha. Mas trinta segundos depois, percebe-se que, com as mulheres, nunca se fala assim.
Passa um indiano com ar de quem começou o dia de madrugada, arrastando um carrinho carregado de sandes de plástico e chocolates fora do prazo de validade. Exibe orgulhosamente a chave com que abrirá a máquina onde colocará o veneno que alimentará todas as esperas do edifício.
Instala-se em frente da máquina, aberta e indisponível, com gestos lentos. Encontra a glória do dia no momento em que os outros têm que esperar que ele acabe o seu trabalho para poderem sacar alguma coisa da máquina em troca de uma moeda.
Ri-se para mim com ar satisfeito. Retarda os gestos.
Hoje tem uma vítima especial.
Enquanto a criança continua a fazer-se atrair pelo seu reflexo, aparece um funcionário que faz voz de soprano ao pronunciar, alto, nomes incompreensíveis. Algumas pessoas avisam que existem. A atenção da sala concentra-se nele por um curto instante.
A excepção é o indiano. A gozar o seu pequeno momento de vingança social.
Depois, o funcionário cala-se. A criança volta a tingir o chão de pequenas manchas cor-de-rosa-pastilha-elástica. A tia negra afaga o seu próprio pescoço. A cigana dirige rezas contra uma sala, por enquanto, ainda vazia. O advogado desliga o telefone. Quinze outras pessoas passam em três sentido diferentes.
Finalmente, o indiano devolve-me a máquina que me cospe um café de péssima qualidade.
Uma mulher aparece e cumprimenta efusivamente o homem do fato italiano. Queixam-se do sistema que os deixa à espera. E ainda só passaram cinco minutos desde que as portas abriram. Esperarão muitas horas.
Dois polícias entram pela porta principal aos empurrões a um miúdo. O miúdo olha para mim com ar ameaçador. Eu não me lembro dele. Mas ele lembra-se de me odiar. Um atento segurança passa pela criança, pela tia, pela cigana, pelo advogado, pela conhecida do advogado e pelo carrinho vazio de comida do indiano e pergunta-me se preciso de alguma coisa.
Ele sabe que eu só preciso do café que já tenho na mão. Mas foi a forma que encontrou para me dizer que não devo estar ali. As portas já estão abertas. Os actores não se sentam na assistência. São os procedimentos. Tenta empurrar-me com o olhar, devolvendo-me àquela parte do edifício onde só entra quem souber o código.
Podia perguntar-lhe se me querem esconder deles, ou se os querem esconder a eles de mim. Mas ele limitar-se-ia a responder-me que não quer é problemas.
Ninguém quer problemas. O miúdo escoltado pelos polícias também não queria problemas. Só queria espetar uma faca nos pulmões de outro miúdo.

Eu levo o meu café, digito o código e devolvo a normalidade ao mundo com o gesto de fazer de conta que não faço parte dele.

Daqui a oito horas voltarei a esta sala para retirar o meu último café do dia.
Estará vazia. E, no entanto, repleta com os despojos celulares de um dia de confissões e arrependimentos, acusações e ameaças, ódios, raiva, dor e medo. Muito medo.
A criança terá voltado para casa com a tia e não será institucionalizada se uma assistente social se convencer que a tia tem competências de parentalidade. A cigana terá sido expulsa da sala por incomodar os trabalhos com os seus soluços demasiado altos. A secretária do advogado encontrará a pasta azul. Ele fará um acordo, a tempo de uma sobremesa com a amante do telefonema. O indiano terá voltado para o sítio de onde veio, esquecido que hoje teve uma vítima especial. O filho da cigana foi recolhido da civilização humana e é como se já não existisse, agora que não o podemos ver.
O miúdo escoltado pela polícia estratificará o ódio a um nível superior ao medo.
Logo que possa, matar-me-á.

Na sala vazia, enquanto me vê brigar com a máquina do café, fechada e disponível, o segurança da manhã aproxima-se. Controla a genuína vontade de me fazer uma festa na cabeça e deseja-me uma boa noite com o ar do marido que pergunta:
“Querida, como foi o teu dia?”.

a arte

"se os soldados forem punidos antes de se terem afeiçoado a si não lhe serão obedientes e, se não forem obedientes, serão praticamente inúteis.
se, uma vez ganha a afeição, os castigos não forem impostos, eles continuarão a ser inúteis."

"deste modo, num primeiro momento, os soldados deverão ser tratados humanamente mas controlados com uma disciplina de ferro.

este é o caminho certo para a vitória."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Desire-Cemeteries-Elysian?

Eunice – what´s de matter honey? Are you lost?
Blanche – They told me to take a street car named Desire, and then transfer to one called Cemeteries and ride six blocks and get of at – Elysian Fields.


A Streetcar Named Desire, Tennessee Williams

Love is a disaster waiting to happen