Fugiram os sonhos pela frincha da porta blindada da casa branca, assética, desinfetada. Os sonhos escaparam à higiene, esquivaram-se ao minimalismo, evadiram-se dos antifúngicos. Oprimia-os a ditadura das linhas direitas da arquitetura da existência; os tectos altos; as luzes indiretas para melhor conforto dos olhos míopes. O edifício, de inteligência artificial, racional até aos alicerces, da consistência fria do aço, não era dream friendly. E os sonhos fugiram pela frincha da porta blindada e espalharam-se pelas ruas à procura de um pouco de lixo humano. Acumularam-se em esquinas sombrias. Espreitaram pelas janelas dos tugúrios ocupados por coisas antigas, como o sangue, o suor e as lágrimas. Treparam pelas paredes e enroscaram-se nos pés sujos das pessoas simples.
Não voltarão, os sonhos, a este edifício hermético e eficiente. Expurgado da dor, mas também da esperança.
É preciso dor para poder sonhar? Bem capaz...
ResponderEliminarNão creio. Porém, para sonhar é preciso coragem para enfrentar a dor.
EliminarSIM
ResponderEliminarSIM
SIM
[caguei para a coragem, após experimentá-la (à dor) à revelia]
Amen!
EliminarTalvez voltem. Se os sonhos se precuparem com a sobrevivência da humanidade hão de reconhecer que a única esperança está na razão.
ResponderEliminarCreio que num mundo ideal a razão encontrará sonhos compatíveis.
Eliminarnã me importava se os meus sonhos fossem mais imundos :)
ResponderEliminarQuerias, portanto, ter sonhos porquinhos?
Eliminar:)