Por aqui morre-se aos magotes nos últimos dias. Deve haver filas, à chegada, lá por essoutra dimensão onde te foste meter. Talvez a sobrelotação faça com que te alojem com o Cohen ou com o George Michael. Poderás tocar com eles. É quase cómico imaginar-te sentado no chão das nuvens, olhar concentrado nas cordas da guitarra, ligeiro abanar na cabeça, sorriso a disfarçar a irritação pela nota falhada. "Os desafinados também têm coração". Sempre achei que tocavas pessimamente. Não me lembro se to disse. Espero tê-lo feito. Devo tê-lo feito. Na época ainda tinha prontidão em reconhecer as falhas dos outros e a presunção de um resto de objetividade. Hoje em dia maravilho-me com qualquer raio que ilumine o negrume ao fundo. Até a tua hipotética carreira póstuma de letrista de pop stars falecidas é coisa capaz de me enternecer.
Entretanto, está prestes a escoar-se outro ano.
O mundo não ficou melhor nem pior, antes prosseguiu indiferente. Nós, os criadores dos deuses, continuamos exatamente iguais ao que éramos. Movemo-nos empurrados pelo tédio de dias que, em média, têm demasiadas horas. Inventamos missões para justificar a nós próprios o mistério da resiliência. Somos Atlas de dimensões liliputianas.
Posso apenas esperar que o além não seja construído à semelhança do aquém: — Esta infinita sucessão de desencontros.
E se for, que te dêem Möet e que lhes pagues em poesia.
Escreve-a nas nuvens.
Saberei encontrá-la.
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