domingo, 11 de dezembro de 2016

Expiação (*)

Podia ter enterrado na carne o mais frio dos cilícios; espalhado vidro mal moído e ajoelhado-me sobre ele durante horas a fio; escaldado as solas dos pés nas pedras incandescentes do jardim ou mesmo ter-me perdido num deserto desconhecido e por ele me arrastar até que pelas minhas veias circulasse mais areia do que sangue. Mas em vez de qualquer uma destas boas velhas formas de autoflagelação, fiz a má escolha de ouvi-lo uma última vez mais.


* (também tenho o tal sinal)

13 comentários:

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    1. Devemos sempre optar por métodos de autoflagelação homologados. Os que têm o selo da igreja católica, por exemplo, parecem-me seguros. Já foram muito testados...

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  2. Há um rapaz, chamado Anthony Robbins, que fez fortuna a ensinar as gentes a andar sobre brasas: a autoflagelação tradicional está muito desvalorizada também...

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    1. Tem toda a razão. Até os cilícios parecem objetos de design post moderno...

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  3. Como se atreve a usar o meu sinal?

    (blasfémia!)

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    1. É para que o mundo veja que a minha inveja não tem limites!

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    2. Vou retaliar. Passarei a usar dois asteriscos. Sempre quero ver o que fará...

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    3. Não pode... pois se é um sinal combinado... colocaria em risco a eficácia da comunicação.

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  4. podemos sempre encarar estas coisas de uma maneira pedagógica, sermos os nossos próprios psicólogos em modo estímulo - análise de resposta, aprendizagem pela experiência.

    a autoflagelação é uma boa forma de higienizar afectos.

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    1. Não acredito na psicologia, mas a parte de higienizar afetos já me parece muito bem.

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  5. ...E ouvi-lo, deixou-lhe marcas profundas, ou foi assim coisa de entrar a cem e sair a duzentos?

    PS- Esse sinal está sem valor comunicacional. Para o validar tem de o colocar tal qual está em cima: entre parênteses...e mesmo assim...

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