Todos os anos ofereço a mim própria um presente. Costuma ser o melhor presente que recebo, o que bem se compreende, já que, além de ser a pessoa no mundo que mais gosta de mim, sou igualmente aquela com quem estou disposta a gastar mais e a quem habitualmente não tenho escrúpulos em satisfazer caprichos. Este ano ofereci-me uma edição decente, esgotada, de As Mil e Uma Noites. Tive algum trabalho para a conseguir mas agora tenho os seis volumes ali aos meus pés, branquinhos com inscrições em persa, e, na alegria da possessão, tenho de fazer um esforço para evitar usá-los como almofada durante a noite.
Eu gosto de ter coisas. Muitas e bonitas. Vou gostar de ter coisas durante toda a minha a vida. Sou, irremediavelmente, esse tipo de pessoa. Como se tem alergia ao marisco, ou se é teimoso, ou se tem mau sentido de orientação, sou uma pessoa que tem prazer em tornar-se proprietária de objetos.
O meu cão tem o hábito de levar os brinquedos preferidos para a sua cama e, deitando-se de barriga para cima, esfregar as costas nos ditos brinquedos, atividade que, inequivocamente, o deixa muito satisfeito.
Um qualquer resto de dignidade impede-me de fazer o mesmo com os meus livros novos. Mas, devo admito-lo, era o que me apetecia fazer às Mil e Uma Noites.
Mas numa mesa de cabeceira, por exemplo, não há tais limites -- e por vezes a força de gravidade causa desabamentos imprevistos e inevitáveis... (ou seja, há sempre alibis credíveis no que aos livros concerne...)
ResponderEliminarEntretanto já o fiz! É maravilhoso.
Eliminaressa de oferecer uma prenda a ti mesma é uma excelente ideia, no próximo ano vou oferecer-me uma viagem até um buraco distante, em que nã haja rede de telemóvel nem pessoas por perto...
ResponderEliminarSou extraordinariamente generosa e indulgente comigo própria. Costumo oferecer-me peles e malas daquelas finas e assim.
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