segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Enquanto a trovoada.

Lembro-me de um outro final de tarde igual ao de hoje.
Os raios consumiram a terra e, com a mesma avidez, a chuva lavou as cinzas. 
O chão desfez-se sob os nossos pés nus, deixando à vista, do outro lado do mundo, o mar indiferente.
Quando tudo terminou, caiu uma noite que foi a mais leve e a mais pura de todas as noites. 
Então, aqueles de entre nós a quem não os afligiam os pecados abriram as janelas das suas casas e deixaram entrar o ar puro.
Aos outros, havia-nos recebido o mar.
Navegámos durante muitos dias. 
Como penitência, primeiro, por vocação, depois. 
No esquecimento, por fim. 

O mundo reorganiza-se sob a violência de uma antiga tempestade. Esse medo que vem do chão.



Sem comentários:

Enviar um comentário