Lembro-me de um outro final de tarde igual ao de hoje.
Os raios consumiram a terra e, com a mesma avidez, a chuva lavou as cinzas.
O chão desfez-se sob os nossos pés nus, deixando à vista, do outro lado do mundo, o mar indiferente.
Quando tudo terminou, caiu uma noite que foi a mais leve e a mais pura de todas as noites.
Então, aqueles de entre nós a quem não os afligiam os pecados abriram as janelas das suas casas e deixaram entrar o ar puro.
Aos outros, havia-nos recebido o mar.
Navegámos durante muitos dias.
Como penitência, primeiro, por vocação, depois.
No esquecimento, por fim.
O mundo reorganiza-se sob a violência de uma antiga tempestade. Esse medo que vem do chão.
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