Quando, por fim, também eu segui esse caminho, submetendo-me à promessa de não olhar para trás, nada me disseram sobre a deposição dos meus poderes de bruxa.
Transpus a montanha e renasci, obediente, durante um entardecer numa praia a sul.
Um de nós morreu, o outro sobreviveu.
A sobrevivência, e não a vida, é a justa recompensa pela cobardia.
Agora olho o imenso mar e o azul é-me tão indecifrável como a linguagem do vento e das aves e das pedras escuras. É verdade que me devolveram o cenário da noite. Mas os sonhos são de papel pintado. É dentro deles que me sei mais néscia.
Trocava esta idílica praia que não sei ler pela clarividência de uma antiga montanha mal assombrada.
O mar que não me molha, por um resto de céu que me respire.
E se já não olho para trás, não é por temor aos deuses.
Antes, por me saber cega.
Um mar que não molha é um mar avariado: se estiver na garantia, é caso de pedir a troca.
ResponderEliminarA burocracia dos deuses é gravemente desincentivadora da apresentação de reclamações.
EliminarSobre bruxaria, estou sempre disponível para esclarecimentos :)
ResponderEliminarNa ótica do utilizador?
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