Acho que ainda não percebi muito bem a polémica. Estão chocados com "o conceito" ou com o talento do autor premiado? é que, sinceramente, não me choca nada esta atribuição em si- considerando que um nobel visa distinguir alguém cuja obra se reconhece contributo bastante para a humanidade, e o conceito (talvez mais vasto do que "aqueles livros de que ouvi falar daqueles escritores de quem me falaram"), não vejo onde está o problema. Se é para discutir o valor da obra do senhor e a efectiva influência a nível mundial, pois por aí já me meto.
(e esse argumento do "tamanho", hein? sobre a extensão da obra, ainda há pouco tempo uma menina pequenina ganhou um nobel "só" porque queria ir para a escola...)
Não sei o que choca os outros. Eu não sou fã das letras do Dylan. Da perspetiva literária da coisa não compreendo o prémio. (Parece-me que estou em minoria. Tenho visto comentários muito elogiosos) Prefiro que o prémio Nobel da literatura seja atribuído a escritores daqueles que, querendo, conseguem escrever um romance. E também não subscrevo a atribuição do Nobel ao Dylan como sendo um ato de coragem. Coragem seria entregá-lo ao Salman Rushdie, que é um escritor excecional e bem o merece.
Eu teria sérias dúvidas sobre um prémio literário que, digamos, Shakespeare ou Borges nunca conseguissem ganhar (que não ganharam, é bem verdade -- mas que não conseguissem).
"Parece-me que nos romances costuma haver um excesso de população. Maria (Kodama) diz-me o mesmo: que ela se perde no romance. Claro! Tanta gente!" (Entrevista a Renato Modernell, 1984)
Discordo. Não há razoável contista que seja incapaz do romance. Há um consenso generalizado sobre a dificuldade acrescida do conto. Borges poderia ter escrito tudo o que quisesse.
Falta de interesse? Falta de paciência e persistência? Ansiedade? Fez vários e não gostou de nenhum? Todas em simultâneo? :) Na verdade, não imagino e também não o lamento. Com o comentário referia-me à capacidade técnica para o efeito e não às qualidades humanas que imagino serem essenciais a determinadas formas de escrita.
Rothko não seria Rothko se não fosse capaz de pintar, digamos, algo como "A morte de Sócrates" de Jacques-Louis David? Tolstoi teria que ser também um dramaturgo como Ibsen? Wallace Stevens teria que ter tido que escrever romances?
Constato apenas o facto de quem é excelente num estilo específico de escrita, conseguir, normalmente, ser pelo menos sofrível nos demais. Coisa que aliás se compreende bem.
Não releva se o faz. Releva se o consegue fazer. Borges escreveu contos perfeitos. Não há nenhuma razão para supor que não conseguisse escrever um romance igualmente perfeito. Eu não estou a dizer que todos os escritores devam escrever romances, digo é que prefiro ver o Nobel entregue a pessoas que o consigam fazer.
Admite, portanto, que se deva segmentar o Nobel da Literatura em subcategorias: Nobel para os poetas que nunca escreveram um romance (Aleixandre, Transtromer, Neruda, Paz); Nobel para os contistas que nunca escreveram um romance (Munro); Nobel para os políticos que nunca escreveram um romance (Churchill); Nobel para os dramaturgos que nunca escreveram um romance (Fo, que morreu hoje)?
Admito tudo, incluindo a sua obstinação em não querer perceber o que já foi suficientemente explicado!! :))) Não há opiniões virgens. A minha traduz uma evidente preferência pelo romance como género literário e alguma preocupação com o seu anunciado fim. Insisto, prefiro ver o Nobel da literatura atribuído a autores que eu acredite serem capazes de escrever um romance. A ideia não comporta assim tantas extrapolações.
Lá está Cuca, a questão (que aqui coloquei) é mesmo esta: não discuto nem gostos nem talentos, não estou a dizer se o homem é bom ou não, se há melhores, nada disso, apenas afirmo que não me choca o facto de um POETA ter recebido o prémio nobel da Literatura, percebes? (eu não conheço Dylan, de facto, a música dele nunca me interessou, nunca prestei atenção às letras, mas não é disso que estou a falar. o que me está a causar um bocado de irritação é perceber nas pessoas muitos preconceitos, afinal, relativos à literatura, tratam-na lá como a vêem, de acordo com a subjectividade que lhes assiste, aquilo que gostam ou deixam de gostar, conhecem ou não e, mais constrangedor, têm critérios bastante rígidos sobre aquilo que "é" "um escritor", não sei se me faço entender)
Tenho esta atitude diante de tudo o que seja prémio, medalha, etc. Prefiro outras formas de enaltecer o trabalho (seja ele artístico, científico, desportivo, etc.), nomeadamente o colectivo (e são tantas as possibilidades).
o blogue pertenceu (pertence? desconheço se ainda existe) à Fundação. A minha reserva vai para esse facto consumado, com ou sem edição, de autoria integral ou não.
"O caderno, reunião dos textos de Saramago postados quase diariamente em seu blog entre setembro de 2008 e março de 2009, é mais do que uma simples coletânea de crônicas jornalísticas. É um relato de vida, um diário intelectual e sentimental do único prêmio Nobel de literatura em língua portuguesa. Na “página branca da internet”, o autor conta o que o motiva, o que o indigna ou o que lhe apetece. Comenta o minuto, mas também recupera uma declaração de amor a Lisboa. Fala dos seus autores preferidos, com humor define as calças sempre impecavelmente vincadas de Carlos Fuentes, mas também o universo turbulento dos turcos de Jorge Amado descobrindo a América. Fala do papa, de Garzón, e de Pessoa; de Sigifredo López e Rosa Parks; e de tantos lutadores pacíficos que conseguiram mudar o mundo ou estão tentando. E emociona-se com gente, com amigos, com pormenores…"
mas, justiça lhes seja feita: não é assim tão fácil cuspir, ao mesmo tempo, no Borges, no Roth, na Virgínia Wolf, no Joyce, no Nabokov, e por aí fora...
em todo o caso - e já que assim é -, fico à espera da medalhita para o Craig Thompson ou para o Joe Sacco.
Acho que ainda não percebi muito bem a polémica. Estão chocados com "o conceito" ou com o talento do autor premiado? é que, sinceramente, não me choca nada esta atribuição em si- considerando que um nobel visa distinguir alguém cuja obra se reconhece contributo bastante para a humanidade, e o conceito (talvez mais vasto do que "aqueles livros de que ouvi falar daqueles escritores de quem me falaram"), não vejo onde está o problema. Se é para discutir o valor da obra do senhor e a efectiva influência a nível mundial, pois por aí já me meto.
ResponderEliminar(e esse argumento do "tamanho", hein?
sobre a extensão da obra, ainda há pouco tempo uma menina pequenina ganhou um nobel "só" porque queria ir para a escola...)
("por aí já NÃO me meto")
EliminarNão sei o que choca os outros.
ResponderEliminarEu não sou fã das letras do Dylan.
Da perspetiva literária da coisa não compreendo o prémio.
(Parece-me que estou em minoria. Tenho visto comentários muito elogiosos)
Prefiro que o prémio Nobel da literatura seja atribuído a escritores daqueles que, querendo, conseguem escrever um romance.
E também não subscrevo a atribuição do Nobel ao Dylan como sendo um ato de coragem. Coragem seria entregá-lo ao Salman Rushdie, que é um escritor excecional e bem o merece.
Isso de escrever o romance, passo. O romance é apenas uma das formas literárias e talvez das mais datadas e perecíveis, francamente.
EliminarNão tem de escrever um romance. Mas convém que o consiga fazer
EliminarEu teria sérias dúvidas sobre um prémio literário que, digamos, Shakespeare ou Borges nunca conseguissem ganhar (que não ganharam, é bem verdade -- mas que não conseguissem).
EliminarPorquê?
EliminarAcha que Borges, querendo-o, não teria conseguido escrever um romance?
:)
"Parece-me que nos romances costuma haver um excesso de população. Maria (Kodama) diz-me o mesmo: que ela se perde no romance. Claro! Tanta gente!"
Eliminar(Entrevista a Renato Modernell, 1984)
Creio que não.
Discordo. Não há razoável contista que seja incapaz do romance. Há um consenso generalizado sobre a dificuldade acrescida do conto.
EliminarBorges poderia ter escrito tudo o que quisesse.
Fica em aberto a questão: então porque nunca o fez?
EliminarNa literatura, é mais ou menos como na pintura abstrata. Não se é excelente numa coisa se não são se conseguir fazer a outra.
EliminarFalta de interesse? Falta de paciência e persistência? Ansiedade? Fez vários e não gostou de nenhum? Todas em simultâneo?
Eliminar:)
Na verdade, não imagino e também não o lamento. Com o comentário referia-me à capacidade técnica para o efeito e não às qualidades humanas que imagino serem essenciais a determinadas formas de escrita.
Bem, Xilre, há pelo menos que admitir que, apesar de não gostar especialmente da poesia de Bob Dylan, já se viram coisas piores.
EliminarRothko não seria Rothko se não fosse capaz de pintar, digamos, algo como "A morte de Sócrates" de Jacques-Louis David? Tolstoi teria que ser também um dramaturgo como Ibsen? Wallace Stevens teria que ter tido que escrever romances?
EliminarConstato apenas o facto de quem é excelente num estilo específico de escrita, conseguir, normalmente, ser pelo menos sofrível nos demais. Coisa que aliás se compreende bem.
EliminarE Borges escreveria um romance "sofrível"?
EliminarNão releva se o faz. Releva se o consegue fazer.
EliminarBorges escreveu contos perfeitos. Não há nenhuma razão para supor que não conseguisse escrever um romance igualmente perfeito.
Eu não estou a dizer que todos os escritores devam escrever romances, digo é que prefiro ver o Nobel entregue a pessoas que o consigam fazer.
Admite, portanto, que se deva segmentar o Nobel da Literatura em subcategorias: Nobel para os poetas que nunca escreveram um romance (Aleixandre, Transtromer, Neruda, Paz); Nobel para os contistas que nunca escreveram um romance (Munro); Nobel para os políticos que nunca escreveram um romance (Churchill); Nobel para os dramaturgos que nunca escreveram um romance (Fo, que morreu hoje)?
EliminarAdmito tudo, incluindo a sua obstinação em não querer perceber o que já foi suficientemente explicado!!
Eliminar:)))
Não há opiniões virgens. A minha traduz uma evidente preferência pelo romance como género literário e alguma preocupação com o seu anunciado fim. Insisto, prefiro ver o Nobel da literatura atribuído a autores que eu acredite serem capazes de escrever um romance.
A ideia não comporta assim tantas extrapolações.
(Mas, claro, nestas coisas, gostos não se discutem)
ResponderEliminarLá está Cuca, a questão (que aqui coloquei) é mesmo esta: não discuto nem gostos nem talentos, não estou a dizer se o homem é bom ou não, se há melhores, nada disso, apenas afirmo que não me choca o facto de um POETA ter recebido o prémio nobel da Literatura, percebes? (eu não conheço Dylan, de facto, a música dele nunca me interessou, nunca prestei atenção às letras, mas não é disso que estou a falar. o que me está a causar um bocado de irritação é perceber nas pessoas muitos preconceitos, afinal, relativos à literatura, tratam-na lá como a vêem, de acordo com a subjectividade que lhes assiste, aquilo que gostam ou deixam de gostar, conhecem ou não e, mais constrangedor, têm critérios bastante rígidos sobre aquilo que "é" "um escritor", não sei se me faço entender)
ResponderEliminarah sim?
ResponderEliminarpois aviso já que o atirarei ao lago, qual ronaldo & microfone :D
______
p.s. - e o que eu gosto do meu ridículo? :)))
Sobre aquilo que é um escritor nobelizável compreendo o preconceito (naquele sentido em que preconceito encerra a expetativa)
ResponderEliminarTenho esta atitude diante de tudo o que seja prémio, medalha, etc. Prefiro outras formas de enaltecer o trabalho (seja ele artístico, científico, desportivo, etc.), nomeadamente o colectivo (e são tantas as possibilidades).
ResponderEliminarPenso que depende dos prémios.
EliminarAh, quanto a entregarem o Nobel a um blogger, o Saramago manteve durante algum tempo um excelente blog (conta?).
ResponderEliminarNão conta.
EliminarO Saramago era escritor.
Um escritor com um blog.
O Saramago manteve um blogue, ou alguém por ele?
EliminarO Caderno (entretanto editado em livro):
Eliminarhttp://www.josesaramago.org/o-caderno-2009/
a edição não responde à minha pergunta
EliminarA resposta é sim: manteve. Os textos do blog estão reunidos n'O Caderno.
Eliminaro blogue pertenceu (pertence? desconheço se ainda existe) à Fundação. A minha reserva vai para esse facto consumado, com ou sem edição, de autoria integral ou não.
ResponderEliminar"O caderno, reunião dos textos de Saramago postados quase diariamente em seu blog entre setembro de 2008 e março de 2009, é mais do que uma simples coletânea de crônicas jornalísticas. É um relato de vida, um diário intelectual e sentimental do único prêmio Nobel de literatura em língua portuguesa. Na “página branca da internet”, o autor conta o que o motiva, o que o indigna ou o que lhe apetece. Comenta o minuto, mas também recupera uma declaração de amor a Lisboa. Fala dos seus autores preferidos, com humor define as calças sempre impecavelmente vincadas de Carlos Fuentes, mas também o universo turbulento dos turcos de Jorge Amado descobrindo a América. Fala do papa, de Garzón, e de Pessoa; de Sigifredo López e Rosa Parks; e de tantos lutadores pacíficos que conseguiram mudar o mundo ou estão tentando. E emociona-se com gente, com amigos, com pormenores…"
Eliminaro Dylan é músico.
ResponderEliminarmas, justiça lhes seja feita: não é assim tão fácil cuspir, ao mesmo tempo, no Borges, no Roth, na Virgínia Wolf, no Joyce, no Nabokov, e por aí fora...
em todo o caso - e já que assim é -, fico à espera da medalhita para o Craig Thompson ou para o Joe Sacco.