quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Diário de bordo

Quando os vi a todos rigorosamente vestidos, camisa com atilhos sobre o peito, chapéus, sabres, tapa-olhos e pernas de pau, comecei por pensar que, à revelia da minha expressa proibição de festejos importados de continentes bárbaros, estivessem a preparar-se para comemorar a noite das bruxas, mas em versão muito pior, como, em tudo, é timbre desta tripulação Pirata. Depois reparei nas expressões dramáticas, olhos lacrimejantes, postura nostálgico-saudosa, tudo devidamente acompanhado por lenços brancos prontos a ser esgrimidos em intermináveis acenos, e lá percebi que aquilo era uma festa de despedida.
Comuniquei-lhes que durante a minha ausência no congresso de piratas o comando do navio ficará entregue à Pequena Cutxi. Depois de uma das minhas aturadas reflexões de dez segundos, concluí que, entre todos, é o membro da tripulação que me oferece mais garantias de não conseguir provocar danos consideráveis na minha ausência. Além do mais, é tranquilizador saber que a devolução do comando do meu navio fica à distância de um triângulo de queijo ou, na pior das hipóteses, de uma bonita tiara de pechisbeque. 
Parti no final daquela noite e cheguei às Caraíbas no dia seguinte. 
O Pérola Negra não tem o conforto do nosso navio mas leva sobre ele a inegável vantagem de vir equipado com Jack Sparrow. 
Sobre o lendário pirata, bom, direi apenas que me fez lembrar uma velha amiga e a sua bizarra filosofia relativamente a homens. Dizia ela que gostava muito de namorados intelectuais mas apenas durante o inverno. De verão, a praia, o sol, o mar, as longas madrugadas, bastava-lhe que fossem muito bonitos.   
Nas Caraíbas é verão. 


2 comentários:

  1. volta depressa ou morrerei afogado de inveja... isto sem ti nã é a mesma cena, argh!

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    1. Os congressos são importantes para a formação em pirata. Devias ter vindo comigo.

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