A nostalgia que antecedeu a areia foi, afinal, as primeiras partículas de pó do deserto a instalarem-se na alma.
O dia amanheceu longínquo e indistinto, com um sol mascarado de lua e o mundo à distância de um véu opaco que não nos deixa ver as próprias mãos. Há areia por todo o lado: debaixo das unhas, dentro das pálperas, imiscuída nas veias. Agora o dia cai sem que sequer dele se possa dizer que se chegou a erguer. Arrumo a corda de funambulista onde dancei durante as últimas horas e dela sacudo o deserto.
O nosso equilíbrio é tão precário que basta um grão de pó de areia para nos precipitar na queda livre do abismo que nos aprisiona.
Na minha última publicação no meu blog, coloquei um podcast musical que fala de bandas e movimentos que tiveram expressão a partir dos anos 80. Mais para o final, uma voz diz qualuer coisa como isto: «a sua morte foi um choque mas não uma surpresa, ele estava apaixonado pelo abismo e se tu olhas para o abismo, mais cedo ou mais tarde poderás cair.»
ResponderEliminarE um dos segredos do funâmbulo é não olhar para o abismo debaixo da corda, dançar não pensando em nostalgia e outros sentimentos que nos podem fazer cair.
O abismo pode ser interessante, poderemos querer conhecer a priori como seria se caíssemos mas deveremos mantê-lo a uma certa distância para que não caiamos «de facto», o abismo pode ser uma prisão mesmo que auto-imposta mas há vida para lá dos abismos.
(os meus dois centavos de filosofia de auto-ajuda)
Nunca olhar para o abismo quando em cima de uma corda!
EliminarSe é importante a gente apaixonar-se, viver o amor, conhecer intensamente, também é fundamental saber como nos desapaixonar, como largar a obcessão, como deixar ir o fantasma!
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