terça-feira, 29 de junho de 2010

Pretérito Mais-Que-Imperfeito

O passado é a matéria da densidade das relações humanas.
Não é de futuro que se trata quando as pessoas decidem relacionar-se. Na verdade, labora-se na ânsia de armazenar uma história comum.
A inabilidade de conexão com um ou outro é fruto da falta de uma afeição xifópaga a algo em comum, que é sempre passado – o que se foi, o que se fez, do que sempre se gostou.

Por isso, as amizades antigas são adoradas como sagradas. Pensa-se sempre que nunca serão conseguidas novas relações com o mesmo conforto - ainda que essas amizades já tenham desbotado à custa da falta de afinidade que deriva da falta de convivência. E mesmo que esses amigos antigos, siameses no pretérito, se tenham metamorfoseado em estúpidos, ou tenham simplesmente desvoluído: ainda relativamente a esses é mantido um respeito reverencial, em nome da memória partilhada que pode ser de brincadeiras de infância ou bebedeiras de juventude.

O apego torna difícil deitar fora aquilo que já não tem serventia. Mas é imperativo fazer a limpeza.



5 comentários:

  1. Por mais imperfeito que se seja o pretérito contém sempre uma parte de nós próprios que não estamos dispostos a abandonar.
    Algumas dessas amizades de que falas são apenas isso: uma nostalgia por nós próprios.
    Outras não, claro! Outras são aquelas que serão sempre mais verdadeiras do que qualquer um uma que venha, porque foram feitas na época em que ainda tudo era verdadeiro. (cor de cabelo incluída)

    ResponderEliminar
  2. Eu gosto de lhe chamar trelêr. Há pessoas que trelêm, pronto.

    ResponderEliminar
  3. Memories are what warm you up from the inside. But they're also what tear you apart." — Haruki Murakami (Kafka on the Shore)

    ResponderEliminar