- Está lá?
- Sim? Mãe?
- Oh filha, minha filha, onde estás? Estás com o teu irmão?
- Sim mãe, viemos à boleia e estamos na Suíça…
Era assim. Muitas vezes. Os filhos do Ari e dela. No início dos tristes anos 80.
Ele foi quadro superior do Banco de P e desenvolveu parte da sua carreira nos calores da América do Sul.
Havia problemas: Ciúmes. Doentios. Dela.
Sempre se soube que lhe batia. Metia dó à restante família. Era muito bonita. Olhos verde-esmeralda. Ele: nem por isso. Olhos de peixe morto.
Na Bahia, cismava que ela se dava a outros nos prazeres flamejados pelo calor. Era mentira mas nada lhe tirava a desconfiança da cabeça. Nem dos punhos.
Vieram embora.
Reinstalaram-se
Continuou a surrá-la.
Os filhos, afogados em mau ambiente e boa mesada, deram-se a asneiras.
A môça fez uma vida de quedas e tombos. Três filhos. Três casamentos. Dois divórcios seguiram-se a uma viuvez resultante de atropelamento mortal. À frente da filha deles.
O rapaz deixou-se encontrar morto
Tinham o maior gato que alguma vez vi na vida, do tamanho de uma raposa: o Xana. Vivia no parapeito da janela da casa de jantar. Rosnava e mordia toda a gente. Menos à dona. Só comia pescada fresca. Sobreviveu a duas quedas do segundo andar.
O Ari era das poucas pessoas que irritava a sério o meu avô. Dizia que o Porto era uma aldeia com muitas casas.
O Xana morreu muito velho pouco tempo antes dele, que se finou numa lista de espera de transplante renal.
O que eu me diverti a ler isto! Devias ser obrigada a escrever um por dia!
ResponderEliminarCurioso como a nossa família se transforma num freak show quando descrita nas páginas deste oráculo mítico...
ResponderEliminarQue a minha genealogia vos divirta sempre.
Acho que todas as famílias são um pouco freak show quando vistas por dentro. Mas a tua tem um potencial extraordinário...
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