sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O pescador

Vesti a camisa de dormir branca, comprida, de louca, e segui, descalça, por dentro da chuva, até à praia. A lua não veio e o mar engoliu toda a areia. Aninhei-me na escuridão da última rocha, de costas voltadas para as luzes da cidade e pensei que ali, finalmente, poderia dormir.
Mas o velho pescador veio roubar-me o sono, tocando-me no ombro e recitando a sua oração de conjuro de fantasmas.
Amanhã, bem sei, acordarei na minha cama. Limos  enrolados nos fios de cabelo. Areia entre os dedos dos pés feridos. Unhas gastas pelo esforço de me manter presa a esta rocha. 
Hoje, só quero adormecer de olhos postos na noite funda que pertence ao mar.

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