terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Milu

Foi quando me preparava para a mandar enfiar numa caixa de sapatos e remeter à dona que reparei nas semelhanças que existem entre mim e essa aranha que dá pelo nome Milu e veio de um blog chamado o fogo não queima a faca ou qualquer coisa assim com utensílios de cozinha.  Essa alma partilha do meu fascínio por me pendurar em coisas e ficar lá a balouçar-me em silêncio, até que me doam os pés ou o telemóvel toque, o que vier primeiro, com a vantagem que, enquanto eu tenho de procurar um bom telhado ou varanda para o efeito e sujeitar-me à localização e vista disponíveis, Milu constrói o seu próprio balouço onde bem lhe aprouver. 
A pequena aranha, na sua habilidade de ficar imóvel à espera da presa que há de cair na sua teia, manifesta uma inata vocação para a pirataria que, até agora, tem andado a ser desperdiçada em blogues sobre facas de cozinha, onde leva uma vida desgraçada a ouvir versos de poetas que estão para a poesia como, nos anos oitenta do século passado, o Vasco Granja esteve para os desenhos animados. 
Esta simpática criatura, enquanto foi refém no meu navio, entreteve-se a bordar uma laboriosa teia sobre a minha cama que suplanta em maravilha e eficiência qualquer rede mosquiteira. 
Entretanto, conquistou o coração de Andhriminir, o cozinheiro Viking, e tornaram-se de tal forma inseparáveis que Milu passou a viver nas melenas ruivas e compridas do viking, onde está, para todo o sempre, a salvo de qualquer gota de água.
Milu, a aranha Pirata, que recolhi à porta de um blog sobre facas, numa altura em que esteve encerrado sob ameaça de falência, sofreu um upgrade no seu estatuto de refém e é agora o mais recente membro desta intrépida tripulação que, estou certa, tudo fará para a manter entre nós.

(Ao que acresce que ainda este ano não tinha roubado nada às pessoas dos blogs. Assim que me lembre, pelo menos.)

14 comentários:

  1. Respostas
    1. Mau? Não. Foi até muito bom. Estabelci esta relação de afeto com a tua ex aranha!

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  2. Flor,
    Cuca,
    Parece que a história tem novos contornos...

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  3. Essa Milú é uma vira-casacas! Muda de poiso como quem apanha uma mosca na teia, pá!

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  4. tecnicamente nã é um roubo caríssima Capitã...

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    1. Claro que não, meu bom amigo. Tecnicamente é um salvamento!

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  5. Tão boa esta mania que, "Tagik, o berbere contador de histórias", tem de visitar a pirataria, encontrei-o quando regressava a casa e parei para ouvir as aventuras e desventuras de uma aranha que, por um golpe de sorte, conseguiu libertar-se de um mundo obscuro e virou Pirata, no fim da história, disse-nos...foi isso mesmo, Capitã, "mas Alá sabe mais".

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    1. "conseguiu libertar-se de um mundo obscuro"?... garanto-lhe que o meu blog não é nada disso, Cláudia. isso são boatos lançados pela Pirata.

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    2. Ai, Flor, desculpe. Repare que Tagik sempre diz que "Alá sabe mais", é bem capaz de ser por essas e outras. Pronto, já constatei que também se veem por lá navios...e de prata...

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    3. Cláudia, não te deixes enganar pela Flor! A verdade é que a pobre aranha vinha impregnada em poesia obscurantista. É muito mais feliz aqui a contar histórias ao ouvido de Tagik!

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  6. Querida Flor, estou a postos para encetar o resgate de Milu.

    (Depois de avaliar se estará mais feliz num blog de cozinha pirata ou nesse dos utensílios.)

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