quarta-feira, 3 de agosto de 2011

cat people

da varanda da tua casa vê-se a cidade do alto, como se fosse um avesso das ruas. por costuras, as linhas de iluminação pública.
comentávamos que se apagassem as luzes todas não conseguirias voltar para casa. que não sabes orientar-te pelas estrelas (e por isso desististe da vida no campo).


de olhar vazio. sempre. como nas fotografias em que colocas o teu sorriso como um autocolante. sempre à parte. desinteressado. o enfado dos dias. e das pessoas.

os gatos movem-se pelo entusiasmo. seja de que for: entusiasmo de fome. de caça. até da melancolia solitária de um fim de tarde no parapeito de uma varanda. como esta.

por vezes, nem o sorriso te enche os olhos.
o que é feito da tua história?

até estavas embalado na conversa; mas subitamente cortas-me o miado.

de regresso da cozinha, apareces com um pires numa mão e uma garrafa de leite na outra. serves-me, sério. fechas o janelão devagar sem desviar o olhar, como quem aplica um castigo.


eu sei onde vais. onde estás. agora.

quando voltas e espalhas a tua pele toda na cama, ignoras as minhas patas e focinho contra o vidro.
por hoje chega. salto. vou vadiar.

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