Mostrar mensagens com a etiqueta aquilo que poderia ter sido um dia perfeito não fosse o pormenor de eu não ser um gato vadio de verdade. Mostrar todas as mensagens
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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

cat people

da varanda da tua casa vê-se a cidade do alto, como se fosse um avesso das ruas. por costuras, as linhas de iluminação pública.
comentávamos que se apagassem as luzes todas não conseguirias voltar para casa. que não sabes orientar-te pelas estrelas (e por isso desististe da vida no campo).


de olhar vazio. sempre. como nas fotografias em que colocas o teu sorriso como um autocolante. sempre à parte. desinteressado. o enfado dos dias. e das pessoas.

os gatos movem-se pelo entusiasmo. seja de que for: entusiasmo de fome. de caça. até da melancolia solitária de um fim de tarde no parapeito de uma varanda. como esta.

por vezes, nem o sorriso te enche os olhos.
o que é feito da tua história?

até estavas embalado na conversa; mas subitamente cortas-me o miado.

de regresso da cozinha, apareces com um pires numa mão e uma garrafa de leite na outra. serves-me, sério. fechas o janelão devagar sem desviar o olhar, como quem aplica um castigo.


eu sei onde vais. onde estás. agora.

quando voltas e espalhas a tua pele toda na cama, ignoras as minhas patas e focinho contra o vidro.
por hoje chega. salto. vou vadiar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

ócio supra-humano









púrpura, azuis cinza
amarelos de reluzir olhos
raios nalguns fios do meu cabelo que transparecem num ar de riso




passei a tarde inteira no canto de um sofá
só para mim
podia esticar as patas à larga mas deixei-me ficar a um canto

um, dois ou três sonos
perdi a conta










e o rio começa a ganhar cor de coisa profunda, o vento que se levanta vai marcando cada vez com mais intensidade as suas ondas pequeninas
usa um crayon preto de pintar os olhos

os azulejos coloridos lá em baixo dão lugar às luzinhas que vão diamantar a noite

os montes ao longe
ganham a névoa de fim de tarde
a bruma das bruxas do Tejo
que se vestem de fadista e gemem pelos becos cheirando os cachaços dos homens





já quase só claridade
e um arrepio fininho





é o tempo das nuvens cor-de-rosa, que imitam a ponte falhando no tom






arquear a espinha
cravar as unhas no estofado alheio um par de vezes

enfado
é já escorrer pelas escadas abaixo


muito mais tarde, fui tentar apanhar as luzinhas que bailavam nas paredes de uma loja no bairro, que o meu sonho era ter uma bola de espelhos só minha. para brincar