A milonga continuou a ressoar, cega e incansável, nas ruínas do velho palácio, muito depois de teres partido.
Às sextas-feiras, quando a noite corria a sua cortina sobre o mundo, se houvesse lua, os lobos podiam sentir a guitarra solitária mover a sombra de uma dança de facas e rosas.
Deslizávamos por um resto de soalho emoldurado pelas frinchas das paredes onde as gaivotas fizeram ninho. Pele contra o aço, partilhávamos o sangue e o sal, entre passos sincronizados e veias rasgadas.
E os lobos puderam, muito tempo depois de teres partido, sentir o desespero da milonga que, nas ruínas do velho palácio, dancávamos, eu e essa adaga antiga, que guardaste dentro do meu peito.
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