Tenho umas flores artificiais vagamente parecidas com camélias. Se baixar as luzes e olhar à distância são iguais às camélias. Houve um tempo em que as camélias eram verdadeiras e chegavam à terça-feira. Era o tempo em que o futuro ficava à distância de dois aviões. Depois o futuro chegou. As camélias são falsificadas. A jarra, pelo menos, é sólida.
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Substituí com considerável êxito a obsessão com a confeção de muffins pela aprendizagem do piano. Sou péssima em ambas e os progressos são igualmente miseráveis. Mas, de uma forma algo incompreensível, tocar piano para afastar a infelicidade faz-me parecer menos louca.
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Abandonei a leitura da Ilíada. Abandonar a leitura da Ilíada é a atividade mais consistente que desempenho nos últimos vinte anos. Já o fiz em dez casas diferentes. Também abandonei a leitura da Ilíada em diversos hotéis e até em casas onde não vivia. Essas não contei. Abandonar a leitura da Ilíada passou a ser um traço de personalidade.
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Enquanto a senhora da farmácia me entregava o troco, percebi, da forma como se percebem as coisas que são, que nunca conseguirei escolher ir-me embora. O exílio é a oitava costela do Pirata. Esse local mágico onde não esteve o passado, não estará o futuro e o presente está quase a terminar. Até os bêbados, diz-se, sabem sempre o caminho de casa. Mas eu preciso desesperadamente de um GPS.
gostava de ser assim conclusivo pelo menos numa coisa em todas as coisas... e essa dos bêbados nem sempre é assim... já aconteceu perder-me.
ResponderEliminarNão me digas que é um mito urbano?
Eliminarque terrível miasma pessimista por aqui passou cara Cuca?!
ResponderEliminarao Poeta sempre lhe calhou em fado a melancolia num mundo estranho, mas não mais que isso.
Está quase a passar.
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