Encontraram-se na varanda. Ambas empenhadas na observação desse pedaço que falta à lua e que, na incompletude, a faz parecer quase humana. Pendurada, uma, pelos pés descalços no telhado, sentada, a outra, numa cadeira de balouço. Olharam-se demoradamente no silêncio confortável que é exclusivo dos velhos casais e dos eternos inimigos. A que se pendurava na noite foi a primeira a quebrar a harmonia:
- é cedo para ti. Esta lua ainda não é tua.
A que se balouçava no escuro respondeu-lhe sem a olhar:
- é tarde para ti. Esta lua já não é tua.
Então, por um momento, coexistiram pacificamente no mesmo espaço, a primeira na saudade da lua que foi, a segunda na expectativa da lua que será.
E a lua brilhou, na noite, indiferente à cegueira de qualquer uma das duas.
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