segunda-feira, 28 de março de 2011

volta ao dia em 80 Mundos


não se prende o amor com pregos, ao coração. não é assim que funciona.

6 comentários:

  1. @ medusa: nem o cupido usa martelo e prego [a psique explica estas coisas melhor do que eu]. aliás, o único efeito associado à estaca no coração é a morte do vampiro.

    @ cuca: bostik?! efeitos da existência em são jorge da murrunhanha?

    ResponderEliminar
  2. @ noodles: pois não. usa mel e flores. e palavras. que grudam demais.

    ResponderEliminar
  3. Noodles, temo que sim. A ruralidade está a entranhar-se.

    ResponderEliminar
  4. @medusa: essa do "grudam demais" parece-me em defesa do bostik. já o mel e flores merece o final deste comentário.

    @cuca: em roma sê rural.

    @medusa:

    As flores que devoram mel

    As flores que devoram mel
    ficam negras em frente dos espelhos.

    Os animais que devoram estrelas em frente dos espelhos
    ficam brancos por detrás dos pêlos
    ou das plumas da idade.

    As pedras por onde circula a água
    ficam vivas de tanto cantar e, quando se voltam,
    atingem a sua maior velocidade interior.

    Se vêm às portas ver quem bate,
    os lençóis cobrem-se de respiradoras —
    quando regressam ao sono, deixam as mãos abertas.

    Se é uma estátua que bate,
    corre-lhe o sangue pela boca, e sobre os ombros
    torcem-se os cabelos,
    e as asas tremem em frente da porta.

    Se é um retrato,
    sorri sufocado pela noite adiante.

    Os espelhos são negros como os jacintos
    da loucura.

    Os crimes que olham para o espelho têm uma vibração
    silenciosa.

    Se é uma criança, diz:
    eu cá sou cor-de-laranja.

    Porém às vezes é bom ser branco,
    é bom estar deitado.

    O mel faz bem às pedras,
    atrai os olhos dos anjos.

    Quem aplaina tábuas
    acumula uma obscura sabedoria.

    Olha para os espelhos,
    tens um talento assimétrico de assassino.

    Vê-se nos teus ramos frutos negros
    contra a paisagem móvel.

    Se fosses um peixe,
    a porta estaria nas águas mais íntimas, frias, límpidas
    e caladas.

    E não batias — cantavas a tua síncope
    terrível.

    Nada se veria na vertente do espelho.

    Serias como uma máquina cor de cal
    respirando.

    Por isso te ofereço este ramo de lâminas
    e um fato de perfil — e andas nos labirintos.

    Por isso te sento numa cadeira de ar.

    Por isso somos os dois um quadrúpede de seda
    de uma beleza truculenta.

    Temos toda a vigília para encher de silêncios.

    Pensamos os dois o mesmo corpo inaugurado.

    As flores que devoram mel tornam negros
    os espelhos.

    As colinas vão olhando, e tremem na nossa carne
    as estampas de ouro
    extenuante.

    Por isso, por isso, por isso —
    somos assim
    obscuros.

    HELDER, Herberto / Apresentação do rosto. Lisboa: Ulisseia, 1968. 217 p.

    bonito, não é?

    ResponderEliminar
  5. bonito, sim. muito.
    no fim de semana passado fui encher-me de livros. toquei no H. Helder mas não o trouxe. com pena. obrigada por mo trazer.

    ResponderEliminar