sexta-feira, 11 de março de 2011

O amor e a tuberculose

Há nos romances clássicos uma intrigante relação entre o amor e a tuberculose. A heroína apaixona-se, sofre um desgosto de amor e morre de tuberculose. Na versão masculina, mais rara, o herói apanha uma tuberculose, não necessariamente precedida por um desgosto de amor, e depois apaixona-se reciprocamente pela sua incansável cuidadora.
Não é garantido que se trate de mera falta de imaginação. Talvez no subconsciente dos autores clássicos esteja implícita uma interessante ligação entre o amor e as doenças infecciosas pulmonares.
No fundo, enquanto a paixão é um estado gripal curável com chazinhos e canjas de galinha, o amor corresponde à fase evolutiva da doença. Uma vez ultrapassado o ponto de não retorno, a infecção ataca os pulmões afectando a respiração, fazendo expelir sangue e muco e, nos casos mais graves, pode até levar à total falência orgânica. Se pensarmos bem poucas doenças servem a analogia de uma forma tão perfeita. O sarampo e a papeira, por exemplo, são totalmente imprestáveis.
Neste parágrafo, poder-se-ia dar um salto qualitativo de raciocínio explicando que a diferença de versões em função do género está relacionada com o facto de as mulheres se apaixonarem primeiro e amarem depois e de os homens só se apaixonarem pelas mulheres que já amam. Mas isso seria uma parvoíce. A versão masculina do cliché amante tuberculoso justifica-se apenas para que a história permita uma maior taxa de sobrevivência dos homens e deve-se ao facto de os escritores clássicos serem, também eles, maioritariamente homens.

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