Os três volumes de Sophia, recusados com desdém pelo meu poeta morto.
O anel de flores-do-lis incrustadas que, talvez sem ilusão, vai atravessando três gerações.
Os sapatos prateados que, numa tarde de chuva, um homem calçou nos meus pés nus.
A algema que durante dez anos trouxe o pulso direito preso ao coração.
O quadro onde pintei a felicidade e que é hoje mera prova de cronologia factual.
Uma boneca de sabão esquecida na estante dessa casa na planície cuja rua tinha um nome que já esqueci.
O bilhete de um concerto a que fui sem assistir e aquele outro bilhete de uma viagem a que assisti sem ir.
São os objetos que me sobreviverão.
Mas se sobreviverem, serão os mesmos objetos?
ResponderEliminarDizem os objetos guardam a energia de quem os possui.
Eliminaros objectos são máquinas de fazer sobreviver os passados, passados que afinal de contas já deviam ter morrido. Um catch-22 da vida.
ResponderEliminarAqui não se deixa morrer nada. Acumula-se tudo. :)
EliminarNunca saberei explicar o estranho fascínio que sobre mim exercem os objectos sobreviventes. No que toca àqueles pessoais, de primeira mão ou herdados, a razão* quase sempre vence e, após algum tempo de resistência, segundos ou anos, livro-me deles.
ResponderEliminar(* talvez racional, talvez razoável)
Devia chamar-te para vires cá ao Aleph fazer reciclagem.
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