segunda-feira, 21 de março de 2016

A forma das nuvens

Nada sei sobre a forma das nuvens 
do céu da manhã em que me esqueci 
de ti.
Posso presumir o roncar hesitante da máquina do café
a cair sobre um silêncio de baunilha,
O reflexo distraído de um rasto de pressa 
nos espelhos anónimos, 
O traço do lápis escuro com que risquei dos olhos 
uma última insónia, 
Todas as coisas que coabitaram a saudade 
na indiferença do inquilino ingrato.
Mas nunca poderei reconstruir a forma das nuvens 
da manhã em que me esqueci 
de ti
e que é a amnésia inversa desse abraço 
que a ignorância de ser o último irrelevou.
A culpa lastima a falta de lembrança que a inocência agradece. 
Mas todos os céus são iguais quando na terra jaz sepultada a saudade. 






4 comentários:

  1. "Há ocasiões em que o arco prateado se revela
    sobre o solo em múltiplos vestígios
    que o observador displicente não reconhece"

    JTM/ Nuvem

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