domingo, 15 de setembro de 2013

Akira, I



Akira procurou um banco num dos jardins de Tóquio e sentou-se para morrer.
Não sei se Akira era suficientemente organizada para escolher racionalmente um jardim e um banco dentro do jardim. Talvez tenha estudado com afinco a história botânica da cidade para construir uma sepultura com sentido. O terceiro banco a contar da entrada Norte pode, ou não, ter sido um acaso.
Nunca saberemos quanto tempo, ou se algum, despendeu Akira na investigação do melhor local para morrer. Muitas ou nenhuma noite debruçada sobre um Sony Vaio, dos brancos, com os cabelos escuros a cair sobre o teclado e uma luz de fundo azulada, a coligir informações sobre a história dos jardins e a cruzá-las com a posição estrategicamente favorável à ressurreição. Para usar a informação, num ou noutro sentido, consoante a vontade de um regresso rápido sobre outras vestes. Talvez mais propícias à arte de viver. 
O leitor romântico gostaria de uma janela de oportunidade  que lhe permita acreditar que aquele jardim, aquele banco, fizeram parte da história da morte de Akira ainda antes da morte da Akira ser uma história. Um rapaz que lhe pegou na mão lívida escondida numas luvas de pele azul céu e lhe prometeu um amor eterno interrompido dois meses depois por um telefonema de uma mulher do passado que por sua vez definhava no tédio cansado de um casamento frustrado. O tédio é a principal causa de morte.
Akira num vislumbre de esperança que é essa promessa de felicidade amorosa nas palavras dos apaixonados. O último minuto em que o sorriso lhe saiu sem o cheiro do plástico.
O leitor romântico ficaria desiludido com a verdade. 
Dentro do jardim, em frente do banco onde Akira se sentou para morrer, nenhuma árvore com um coração desenhado a canivete suiço e duas vogais a marcar o território virtual . 
Apenas um monte de lixo vegetal que um varredor de jardim deixou arrumado de encontro a um canteiro…

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