sábado, 1 de junho de 2013

Não gosto


Não gosto das duas da tarde nos domingos de verão junto ao mar. Não gosto do cheiro a cemitério que há nos blogues abandonados sem mensagem de despedida. Não gosto dos meus dedos dos pés quando saem da banheira. Não gosto do sabor do gengibre misturado com coisa nenhuma. Não gosto da sensação do fumo a passar pela garganta inflamada. Não gosto do som dos travões dos comboios sobre os carris. Não gosto do cheiro das salas cheias de pessoas. Não gosto das fitas encarnadas e brancas que delimitam cenários. Não gosto de mergulhar dentro das lagoas escuras das grutas. Não gosto da sensação do cobre sobre a pele. Não gosto do ruído de fundo do aeroporto Madrid-barajas. Não gosto de tocas de banho. Não gosto que demorem mais de uma hora a devolver-me as chamadas. Não gosto de mexer em papéis envelhecidos. Não gosto de vestir jeans lavados. Não gosto da expressão do rosto dos mortos aprisionados em fotografias. Não gosto de entrar na casa de banho das outras pessoas. Não gosto da pimenta no puré de batata. Não gosto das janelas trancadas nos hotéis. Não gosto do som dos tremores de terra. Não gosto da areia entre os pés e os sapatos. Não gosto de cabides vazios. Não gosto de bonecas de porcelana. Não gosto de narradores que se dirigem diretamente aos leitores. Não gosto de conversar nas galerias de arte. Não gosto do som do fecho das algemas. Não gosto que me ofereçam flores. Não gosto do espaçamento dos parágrafos nos livros. Não gosto dos gritos histéricos das gaivotas. Não gosto do olhar de solidão dos velhos. Não gosto de ouvir o som da minha voz nas gravações. Não gosto de restaurantes self-service. Não gosto das seis da tarde nos dias de inverno longe do mar. 

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