sábado, 8 de junho de 2013

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Precisei voltar ao Wonderland para expor à lagarta que sabe tudo o problema do mau conto que me persegue. É um conto ruim, de história pobre, estrutura fraca, linguagem requentada e metáforas ordinárias. Sempre que o editor de texto me põe à frente uma imagem branca lá está o conto a ocupar-me o espaço e o tempo. A construir-se nas linhas do meu desprezo e encher-se páginas de contrariedade. 
A lagarta inalou o fumo e olhou para o céu com uma expressão mista de impaciência e nostalgia
- Não podes fazer nada sobre esta proibição do tabaco verdadeiro? Estou farta de fumar chá…
- Talvez. E o meu problema?
Mais um olhar para para o céu, mas agora só de impaciência.
- O que é que já tentaste?
- Para me livrar dele? escrevi-o, claro.
- E continua a aparecer-te? 
- Sempre.
- Tens um problema grave. Tivemos aqui uma situação parecida há uns anos. Um marinheiro com uma obsessão doentia por uma baleia que…
- isso foi no Melville.
A lagarta atirou o cachimbo ao chão furiosa e fixou-me irritada.
- E como esperas que te resolva os problemas com esta porcaria de tabaco de água que me dão para fumar? 
- Já te disse que vou ver o que posso fazer…
- Não chegaste a dizer. Talvez seja esse o problema com o mau conto que te persegue. 
- O implícito?
- dois, três e quatro são nove. Deves fazer como fizemos no caso do marinheiro. Esvazia o mar. 
- Ou seja?
- E isso do tabaco, como é que fica? O dealer era o chapeleiro louco. Desapareceu por tua causa. Isto é tudo por tua causa. Nunca te devíamos ter deixado entrar.
-  Vou-te propor um estatuto de exceção. Agora explica-me como é que esvazio o mar?
A lagarta apanhou o cachimbo no chão e começou a esfregá-lo de encontro ao peito enquanto o olhava como se estivesse à espera que dele saísse o génio do Aladino.
- Apaga o conto hoje mesmo e não escrevas mais uma linha enquanto ele não desistir de ti. Não se negoceia com terroristas. 

Achei que era uma solução muito razoável. 

2 comentários:

  1. Eu não sou a lagarta, mas defendo que não se deve ceder a terroristas - acaba o conto e depois queima-o.

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