Laranja Mecânica (Clockwork orange, Stanley Kubrick, 1971), no seu equivalente a visitas de estudo obrigatórias a Auschwitz por parte de uma certa direita alemã, é o filme que todos os insiders do sistema judicial deveriam ter em casa e ser obrigados a rever anualmente, para que não lhes seja possível esquecer uma série de coisas que preferimos acreditar que já saibam, mas que a gestão quotidiana dos problemas tende a deixar esmorecer num perigoso segundo plano.
Não falo apenas da moral imediata do filme, que são os perigos do experimentalismo psicológico na recuperação da delinquência ou a ideia simultaneamente romântica e aberrante de que é possível extrair de dentro das pessoas os seus impulsos para o mal.
A montante da moral imediata, o filme mostra uma outra que é muito mais importante do que a primeira. O sistema escolhe, mais ou menos aleatoriamente, uns para serem seus guardiões e outros para seus guardados. Mas as pessoas, essas, não deixam de partilhar a mesma natureza e apenas ocupam uma ou outra posição no tabuleiro em virtude de uma série de circunstâncias que são ocasionais e temporárias.
Só a consciência permanente dessa álea nos pode salvar dos desastres de um sistema mecânico, posto ao serviço da área onde o humanismo faz mais falta.
Vem isto tudo a propósito do facto de eu "ir para Pirata".
Quando vi o filme pela primeira vez, depois de ser libertado pelos Piratas do Lápis Vermelho, não percebi patavina e foi preciso mais uns aninhos e outra bagagem para lá chegar. Eis que está esparramado em meia dúzia de palavras pela nossa temível Pirata ! Bom Post , capitão Cuca.
ResponderEliminar