segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O feminismo é cool

Sou feminista, como Emma e como a generalidade das mulheres, desde o dia em que percebi que, pelo simples facto de ser mulher, corria o risco abstrato de gozar de menos direitos do que os homens. Não sei quando é que isso aconteceu, mas tenho a certeza que sou feminista desde essa data porque o feminismo não é mais do que fazer parte do grupo de pessoas que acredita que é intolerável que as mulheres sejam prejudicadas nos seus direitos de cidadania, apenas por terem nascido mulheres.
Grande parte dos homens que conheço, provavelmente a maior parte, embora assim não se reveja de forma consciente, são tão feministas quanto eu.
São hoje pacificamente aceites na generalidade das sociedades ocidentais os princípios defendidos pelo chamado feminismo de primeira onda (concessão às mulheres do direito de voto, do direito de propriedade e o reconhecimento de que as mulheres e os filhos não são propriedade do marido). 
O feminismo de segunda onda, iniciado em 1960, centrou-se na luta contra as desigualdades sociais e culturais e teve como ênfase a tentativa de estabelecimento de políticas que evitassem a discriminação efectiva das mulheres.
Cerca de 1990, com o surgimento do feminismo de terceira onda - e mais tarde com o pós-feminismo, que acredita que estão estabelecidos os objetivos da igualdade de género - geraram-se divisões dentro dos próprios movimentos feministas, já que enquanto alguns acreditam que há diferenças de género que devem ser assumidas, outros defendem que essas diferenças pura e simplesmente não existem.
O discurso de Emma Watson na ONU, embora apresentado sobre as vestes de uma ideia nova, não é novo. Desde, pelo menos, 1980 que uma facção do feminismo reconhece que, sendo a sua mensagem essencialmente dirigida aos homens, a melhor forma, se não a única, de alcançar os seus objetivos é convencê-los a integrar o movimento.
O que o discurso de Emma traz de novo, e já é muito, é a eficácia publicitária na forma de transmissão da mensagem.  
Com efeito, na era global da comunicação, é possível vender-se qualquer ideia e qualquer princípio, desde que se usem as técnicas de venda certas. 
O feminismo, há que admiti-lo sem pudores, fruto da sua vocação abrangente e consequente dispersão de objetivos, não tem sabido vender-se, dando de si próprio uma imagem que, no seu radicalismo, faz com que as próprias mulheres nele não se revejam, acabando por se afastar.
O que o discurso de Emma teve de bom e de inovador, mais do que apresentar o feminismo como um produto que pode ser consumido por ambos os sexos, foi lembrar-nos que o feminismo é cool.

Vénia ao Pipoco Mais Salgado, o falso misógino de serviço (se não fosse ele, quem?), por se ter disposto a falar do assunto.



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