Na televisão estava uma mulher que a única história que tinha para contar é que esteve casada dez anos, foi enganada pelo marido, divorciou-se e depois abriu um café. Aparentemente, alguém achou que esta vida tem suficiente interesse para ser exibida num canal de televisão.
Mudei de canal.
A concorrência oferecia um programa tão idêntico que fiquei com dúvidas se o comando ainda tinha pilhas.
Nesta televisão estava uma mulher que perdeu o emprego e em vez de emigrar abriu uma mercearia. Não consigo apurar se já foi traída pelo marido ou se ainda vai ser.
O problema não está nas senhoras que gentilmente partilham connosco a absoluta banalidade das suas existências, dando-nos qualificados conselhos sobre a melhor maneira se ser feliz com aquilo que se tem e nunca desistir. Seja lá isso, desistir, aquilo que for, quando, convenhamos, o feito destas senhoras não é a investigação da cura para o cancro, mas a simples prossecução da sua própria existência, fazendo aquilo que os humanos fazem fazem desde que são humanos, ou seja, subsistindo.
Talvez o problema nem sequer seja das duas direções de programas que consideram que o tempo em televisão é suficientemente abundante para ocupar meia hora com histórias de vida que a única coisa que têm de extraordinário é a sua profunda banalidade.
Ainda assim há um problema.
O tamanho dos sonhos faz-se dos exemplos, a evolução faz-se pela aprendizagem e a tacanhez dos povos é proporcional à dos seus líderes.
Algo de grave tem de passar-se numa sociedade que serve aos zombies sentados nos sofás das respectivas salas, com o entusiasmo de quem distribui prozac, o consolo de saber que há pessoas iguais a elas que ainda não se suicidaram.
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