segunda-feira, 15 de março de 2010

A glória daqueles que lutam diariamente batalhas de uma guerra com o espelho que sabem, à partida, perdida.


...

São 7h50.

Não acredito.

Levanto-me ao fim de uns minutos de ódio.

Tomo um duche – sem lavar o cabelo porque já me deixei disso em casa. Se vissem o tamanho deste polvo molhado perceberiam o tempo que demora a lavar e a secar e como tal tarefa não se compatibiliza com a minha vida.

Depois de seca, deliberadamente esqueço o hidratante porque “coloco mais logo, antes de me deitar...”.

Espeto as lentes de contacto nos olhos: - 3,25 no esquerdo; - 2,75 no direito. Sim, sou quase tão amblíope como um morcego.

Com o dedo anelar, coloco o creme de contorno dos olhos, não tanta quantidade como antes de me deitar senão ficam “papudos”, pressiono com dedo anelar, de dentro para fora, cinco vezes para abaixar o inchaço provocado pelas (sempre) poucas horas de sono.

Faço photoshop com o serum para minimizar os poros – espalho em todo o rosto.

Espalho o hidratante com protecção solar no rosto e pescoço; sim, no pescoço, até à nuca porque não quero correr o risco de daqui a uns anos ter ainda um rosto de porcelana num pescoço de papiro.

Nas costas da mão, entre o dedo grande e o indicador, coloco uma bolinha de primer verde, que espalho com os dedos indicador e médio nas maçãs do rosto, queixo e contorno do nariz, para anular as rosáceas e outras manchas avermelhadas que, dizem, só eu vejo.

Deixo secar uns segundos.

Coloco o corrector de olheiras, no canto interno do olho, e, por baixo, fazendo um triângulo invertido até a altura da ponta do nariz (como se pintam os pierrots). É a zona do rosto onde o corrector é menos eficaz. Coloco corrector no queixo. Coloco corrector em alguma “pré-borbulha” – não coloco nas borbulhas porque é pior a emenda que o soneto... mas também, é raro ter borbulhas.

Deixo secar uns segundos.

Coloco pó solto para matizar todas as zonas onde coloquei produtos em texturas fluidas. Pelo rosto todo, com pincel largo – há muito tempo investi em pincéis de pêlo de vison, vale a pena. Com pincel médio, coloco nas pálpebras.

Aplico bronzer em pó com pincel oblíquo por debaixo das maçãs do rosto, a fazer de blush. Faz milagres num rosto comprido como o meu.

Coloco uma sombra em pó nas pálpebras móveis dos olhos.

Ilumino o canto interior dos olhos com lápis branco pérola.

Coloco rímel preto apenas nas pestanas superiores.

Escovo as sobrancelhas para lhes retirar o pó solto.

Examino o resultado que, habitualmente, é um no-makeup look com o qual me sinto confortável.

Solto o cabelo, penteio com jeito para não o partir.

Visto a roupa. Nuns dias mais inspirada que noutros.

São 8h30.

...

São 23h57.

Dispo-me e, deliberadamente, esqueço o hidratante porque “coloco amanhã, depois do duche...”.

Amarro o cabelo já em robe de chambre, que é muito mais bonito que dizer roupão e menos ridículo que dizer peignoir.

Retiro as lentes de contacto e passo a servir-me apenas do espelho de aumento fixo à parede ao pé do rosto.

Num disco de algodão coloco o desmaquilhante bifásico para os olhos. Passo duas vezes em cada olho com cuidado para não stressar muito a pele junto aos olhos. Lá se vão as minhas pestanas de cinema.

Bombo 4 vezes o tubo de leite desmaquilhante e espalho com os dedos em todo o rosto e pescoço em movimentos circulares. Retiro a lama resultante com dois ou três discos de algodão limpos.

Noutro disco de algodão limpo coloco o tónico e passo pelo rosto e pescoço, evito os olhos. Ainda sai sujo.

Enquanto a pele seca, lavo os dentes. Duas vezes, uma com escova normal outra, bem mais demorada, com escovilhão por causa do aparelho ortodôntico. Digo sempre ao espelho que estes 18 meses de tratamento e sorriso metálico vão valer a pena quando o retirar. Actualmente apenas sorrio para as fotografias; gargalhadas apenas em 2011.

Com o dedo anelar, coloco o creme de contorno dos olhos, em maior quantidade do que coloco de manhã para ver se compensa as (sempre) poucas horas de sono que vou ter de seguida. Faço um sorriso bem largo para ver onde estão as rugas de expressão e encho-as de creme.

Espalho as gotas de serum para a noite por todo o rosto e pescoço.

Espalho o hidratante rico em retinol e outros componentes anti-age no rosto e pescoço até à nuca.

Solto e penteio o cabelo com cautela para não o partir.

Coloco, nas mãos, creme para os pés que são mais gordos e reparadores. Insisto nas cutículas para não ter espigões.

São 00h21.

5 comentários:

  1. Essa do pescoço de papiro fez-me pensar que tenho desprezado completamente o meu pescocinho. Mas eu acho a sensação do creme no pescoço verdadeiramente horrível.

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  2. Descobri que o meu ritual é simplificado - só não dispenso, em circunstância alguma, o desmaquilhante, o protector solar factor 50 e o hidratante.
    Começa mais cedo.
    E repete-se à mesma hora, noite dentro.

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  3. Medusa,
    Não podia deixar de comentar este post maravilhosamente descritivo!
    Não tenho paciência para metade, mas gostava!!!
    Adoro-te.
    C.

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