quinta-feira, 13 de julho de 2017

A longa noite

Na tão longa noite, além dos gritos das gaivotas, do desconforto do calor, das melgas, de um resto de luz dos faróis de algum carro que passou, veio também o perdão. Às cinco da manhã, último instante da madrugada em que são possíveis ações memoráveis, consegui perdoar-lhe. Creio que se perdoa à velocidade com que se ama e, como diz a canção, quando eu amo é sempre devagar. No dobrar das mil e uma noites, surgiu aquela, maior do que todas as outras, em que veio, finalmente, o perdão.
A manhã ofereceu-me um mundo de aparência igual ao da véspera mas, em tudo, diferente. Como se também a matéria de que são feitas as coisas pudesse depender do peso do coração. 
Saberei um dia aquilo que todos os animais pressentem: que o perdão é a face dourada da moeda do desprezo. 

4 comentários:

  1. "Saberei um dia aquilo que todos os animais pressentem: que o perdão é a face dourada da moeda do desprezo."

    Consegue ser ainda 'pior', a face, quando se transforma em nota de obrigação... (mantendo, obviamente, uma questão ética que jamais deveria ter sido posta em causa). Acontece com as únicas alimárias possíveis: gente com educação.

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