quarta-feira, 5 de abril de 2017

Promessa

ofereço-te esta tarde de desvento.
as flores agarradas aos ramos das árvores
e os ramos seguros à seiva do tempo.

o pátio lá fora num silêncio de sesta,
o gato que se estende sobre o calor das pedras
e a imobilidade mágica do sol que resta.

a luz que se aninha nos meus pés descalços,
o lençol; cada um dos eivos do seu vasto deserto
e os espelhos onde se desfazem medos falsos.

nuances de sombra azul que me habitam
um ou outro grito arrancado à carne
penas que compõem as asas ou as imitam.

Ofereço-te o que não pode perdurar:
o olhar líquido que inventa a tarde,
a insídia de um veneno que não arde,
a abstrata, vã, promessa de te amar.

6 comentários:

  1. Seria uma mentira descarada se dissesse que este poema salvou o meu dia, que este meu dia não está precisado de salvação, o que também não está é cansado, este meu dia, de coisas que o enriqueçam e por isso tinha de passar também por aqui e isto sim é bem verdade.

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  2. Muito bonito, embora mais abaixo o Universo Paralelo me chegue como uma chapada nas trombas. Pondere, minha cara, alterar a assinatura para Cuca, a Poeta Pirata.

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    1. Isso da chapada nas trombas deixa-me muito vaidosa.
      Obrigada, Henrique.

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  3. Ofereço-te o que não pode perdurar:
    o olhar líquido que inventa a tarde,
    a insídia de um veneno que não arde,
    a abstrata, vã, promessa de te amar.


    Obrigado!
    http://joaquimalexandrerodrigues.blogspot.pt/2017/06/promessa.html

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    1. Eu é que agradeço a referência. E a música, céus, tão perfeita que é a música que escolheu.

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