quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Charlie - odiar o ódio

Liberdade de expressão não se confunde com a liberdade de dizermos coisas bonitas, consensuais ou politicamente corretas. Liberdade de expressão é, sobretudo, a liberdade de expressarmos discordância, repugnância e desprezo. E é ainda a liberdade de satirizarmos os outros e os seus valores mais profundos. As convicções religiosas, quaisquer convicções religiosas, não são mais importantes do que o exercício desta liberdade. 
Os que acreditam que os homicídios de ontem são imputáveis ao Islão e os que acreditam que são o justo preço pela ousadia de gozar com o Islão constituem duas faces da mesma moeda. A moeda do fanatismo ignorante cunhada no mesmo material que produziu os assassinos de ontem.

13 comentários:

  1. No fundo, é a liberdade de sermos nós próprios e de deixarmos falar a nossa consciência sem qualquer tipo de tabus.

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  2. Estamos na mesma Europa onde todos os anos há conflitos entre Católicos e Protestantes, na Irlanda -- e sistemáticos, ainda por cima (acontecem nas marchas da Ordem de Orange em Dumcree e noutros locais). Uma Europa, por outras palavras, que está mais longe do que se imagina da abertura religiosa. Dever-se-á, por isso, estigmatizar todos os católicos, ou todos os protestantes?

    Muito há que fazer ainda dentro da fortaleza Europa até que a realidade corresponda, verdadeiramente, à ficção de tolerância criada.

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    1. Por isso mesmo é importante reforçar que nada disto é o Islão.

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  3. Complexo e difuso por intersectar conceitos tão subjectivos quanto a percepção de ofensa, a violência em acto, e o exercício restrito da liberdade.

    Nenhuma liberdade é absoluta. Mais especificamente, nenhuma definição de liberdade é absoluta.

    E empírica e infelizmente parece-me ser quase sempre da crença em 'absolutos' que nasce a violência "racional".

    Nesta perspectiva tanto o Islão quanto outra qualquer crença arbitrária, livremente abraçada ou imposta, ainda que suavemente durante um longo processo de crescimento, é aparentemente funesta e delicada de decompor.

    A única sensação de liberdade que conheço é a de a minha consciência indagar, questionar, e sonhar.
    Apenas retirando O Outro do contexto (mais concretamente, "a possibilidade de acção sobre outrem") se consegue um pequeno mas solitário vislumbre de um conceito incomensurável. Sendo impossível na matéria, ficamos com algo um pouco menos que perfeito, como é usual.

    Nada disto é o Islão? Há uma desnecessária defesa implícita nestas palavras, na minha modesta interpretação.

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    1. Caro Quiescente, permita-me felicitá-lo por uma das mais belas (e correctas, a meu ver) definições de liberdade que me têm sido dadas a conhecer! Permita-me citá-lo aqui, só pelo prazer de poder ler novamente esta sua constatação: "A única sensação de liberdade que conheço é a de a minha consciência indagar, questionar, e sonhar."!
      Muito obrigada!

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    2. Quiescente, sendo verdade que a liberdade de expressão não é absoluta, não deixa de ser certo que não pode encontrar limites na sátira às religiões.
      Quanto à (des) necessidade de defesa do islão, o problema é que estes acontecimentos são terreno fértil para a diabolizaçao do islamismo (como aliás, já as começou a ver).

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  4. Pena que não consiga ver a verdadeira face do fanatismo e da ignorância... Pena que não consiga ver qual é, realmente, a outra face da moeda... Mas é assim mesmo: o mundo está formatado para servir os interesses da "cultura do hamburguer", e a formatação é tão sólida que o deixa cego à verdade!

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    1. Uma pena, sem dúvida. Falta-me a clarividência da Isabel que, com certeza saberá mais sobre fanatismo e ignorância do que eu.

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    2. Poderia até tentar debater mais o assunto (poderia ser interessante), mas vejo que, talvez por falta de arhgumentos, a cara recorre facilmente ao insulto directo. Não estou habituada a debater dessa maneira. Fique, pois, com toda a sua sapiência.

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    3. Obrigada, Isabel.
      Agora, como se diz por aí, "deslargue-me"!

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  5. De facto. Reconheço propriedade no argumento cara Cuca, hoje mais lúcido, ou avisado.
    Pior, induzidos nesta discussão acerca da liberdade, temo estarmos todos a ser tomados por tolos.
    Eu, que sinto também, talvez erradamente, uma certa antipatia pelo determinismo histórico, penso estar novamente a observar padrões intemporais. Quem sabe se contaminado pela paranóia dos tempos modernos, pelo alheamento do indivíduo face ao todo, recordo assustadores paralelos no enigmático caso Oswald, tornado mito, plasmado na consciência colectiva de gerações, e o véu que permanentemente parece ocultar a realidade histórica. Recordo as "democracias" ocidentais manchadas pela suspeição de encobrimento de assassinato de chefes de estado, e assim de repente ocorrendo-me a Itália, os Estado Unidos, e o nosso próprio caso, particularmente patético na macabra fábula, na ode ao ridículo, construída pelas sucessivas comissões de inquérito. Recordo os ciclópicos sistemas de informação que olham para todo lado e por vezes nada parecem ver, o sempre suspeito concertado aproveitamento político da turba do costume, as guerras travadas por motivos imaginários, e assusto-me pensando que de facto pode haver quem tenha 'vencido' com tudo isto.
    Abraço (e as minhas sinceras desculpas, eu próprio arrastado pela ira fácil das aparências e esquecendo o agnosticismo que tanto prezo).

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