segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O príncipe arrependido



Por fim, muito tempo depois do teatro encerrado, percebi que a diferença entre co-atores da mesma tragédia - esse abismo entre a tranquilidade, quase placidez, de uns e a inquietação, quase neurose, de outros - justifica-se menos pela distorção retrospetiva de um mesmo passado comum, do que pela capacidade de arrependimento. 
Ele soube arrepender-se. E o arrependimento, como caminho alternativo e excludente do perdão , é infinitamente mais libertador.
Tal como Kleist, em o Príncipe de Hamburgo, que disse que o arrependimento é a inocência dos pecadores. 
A chave para o retorno à verdejante planície, povoada de coelhinhos brancos da inocência possível, não é o perdão. É o arrependimento profundo.
O imperdoável, nele, é que arrependeu-se para se salvar. 

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