Está visto que as notícias bizarras surpreendem-me sempre deitada na chaise long de design com a vista presa na linha do horizonte e a Ilíada adormecida no meu colo. Este facto é alheio à componente estatística vagamente relacionada com o número de horas por dia que passo dedicada a esta atividade. É tudo explicado por uma questão de estilo individual. Decidi que notícia bizarra alguma me iria apanhar noutra posição que não esta. E as coisas, pelo menos neste navio, pelo menos até agora, acontecem sempre da forma como eu decido que elas devem acontecer.
Hoje de manhã os céus anunciaram a aproximação da bizarria. Um arco íris duplo é poesia. Mas um arco-íris triplo é, ou alucinação, ou mau presságio.
E com o problema da venda do crude resolvido, a piscina limpa, a tripulação a ensaiar coreografias para um musical, o Álvaro de Campos calado porque em coma alcoólico, Andhriminir, o cozinheiro Pirata, com os instintos sádicos aplacados por dez frangos assassinados para o jantar, o rum nos barris à temperatura certa, o papagaio de vigia no mastro, enfim, já perceberam a ideia, eu pude, finalmente, fixar os olhos na linha do horizonte, deixar a Ilíada adormecer no meu colo e concentrar-me no significado metafísico desse arco-íris triplo que desde manhã tanta perturbação me trouxe.
Foi nessa altura que Gualtiero, o Italiano, se aproximou com uma carta suspeita. Ainda mais suspeita do que o incrível facto de continuarmos todos a receber correio em alto mar.
No mesmo instante em que as minhas mãos tocaram o envelope, purpurinas cor-de-rosa pastilha elástica colaram-se-me às unhas e percebi que estava perdida. Nem precisei abrir o envelope para ouvir aquela vozinha jocosa tinir-me no pavilhão auricular.
Julgava-a desaparecida a esgotar reservas de diamantes da Amazónia, infiltrada numa nave a atazanar o juízo aos marcianos, num buraco da América do Sul a engendrar uma rebelião, no inferno a fazer um barbecue com o próprio demo...
E foi então que já branca, gelada, em pânico, e ainda sem abrir o envelope, ouvi aquela gargalhada vinda do meu passado negro, seguida da seguinte mensagem:
- Estou aborrecida, soube do pequeno negócio que geres por aí e decidi que também sou Pirata.
O envelope desfez-se, purpurinas e confetis encheram o chão do convés e eu recolhi-me debaixo da minha cama, de onde vos escrevo, sem saber exatamente o que vai acontecer, mas certa de que se aproxima uma onda maior que um tsunami.
Ahoy, quem vem lá?
ResponderEliminar(devo mudar de autefite?)
Era da Merkl ou outra criatura tenebrosa do género ? Ser pirata não é para lambisgóias. Só grandes mulheres atingiram o reconhecimento e não foi garantidamente por usarem purpurinas rosa-chiclete !!! Aye! Todos por uma !
ResponderEliminarHein?! Agora até me enganei na coreografia!
ResponderEliminarahahahahahahah
Eliminar(que andas tu a fazer?)