segunda-feira, 7 de maio de 2012

o destino está sempre em qualquer outro lugar




Lembrei-me da emoção que foi chegar a Lisboa depois de meses de ausência. Do arco-íris que se apoderou de toda a ponte Vasco da Gama e se viu do avião. Esse despropositado outono em que fui cair. O sorriso aberto que me esperava à porta. O movimento dos carros na avenida que rima com a verdade. A Madragoa e os ovos mexidos com cogumelos selvagens do meu preferido de entre os restaurantes sérios de Lisboa. Um abraço nem demasiado solto nem demasiado apertado e que demorou o exato tempo que deve demorar um abraço. O café nos claustros com música roubada. Um taxista que nos fez prometer que nos portaríamos bem. O Cais do Sodré cheio de gente sem pressa e risos descontraídos em salas decrépitas. Um irish pub onde, desde a corona até à música, o antes é rigorosamente igual ao agora. O cais das colunas com o terreiro do paço ao fundo e uma nuvem oportuna que lavou a cidade e com ela a minha alma. O surpreendentemente curto caminho para casa. Um abraço mais apertado e longo do que aquilo que deve ser um abraço. Um outro taxista solidário com reencontros que são despedidas. Adormecer com os cabelos molhados ao som da chuva a cair sobre Lisboa. A sensação de encontro dentro do desencontro. Esse cliché que é Lisboeta.
Mas estava outra vez sentada numa sala de aeroporto. Havia um placard que me atirava à cara o delayed.
E todos sabemos que só se está atrasado quando ainda não se chegou ao destino.

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