Lembrei-me da emoção que
foi chegar a Lisboa depois de meses de ausência. Do arco-íris que se
apoderou de toda a ponte Vasco da Gama e se viu do avião. Esse despropositado
outono em que fui cair. O sorriso aberto que me esperava à porta. O movimento
dos carros na avenida que rima com a verdade. A Madragoa e os ovos mexidos com
cogumelos selvagens do meu preferido de entre os restaurantes sérios de Lisboa.
Um abraço nem demasiado solto nem demasiado apertado e que demorou o exato
tempo que deve demorar um abraço. O café nos claustros com música roubada. Um
taxista que nos fez prometer que nos portaríamos bem. O Cais do Sodré cheio de
gente sem pressa e risos descontraídos em salas decrépitas. Um irish pub onde,
desde a corona até à música, o antes é rigorosamente igual ao agora. O cais das
colunas com o terreiro do paço ao fundo e uma nuvem oportuna que lavou a cidade
e com ela a minha alma. O surpreendentemente curto caminho para casa. Um abraço
mais apertado e longo do que aquilo que deve ser um abraço. Um outro taxista
solidário com reencontros que são despedidas. Adormecer com os cabelos molhados
ao som da chuva a cair sobre Lisboa. A sensação de encontro dentro do
desencontro. Esse cliché que é Lisboeta.
Mas estava outra vez sentada numa
sala de aeroporto. Havia um placard que me atirava à cara o delayed.
E todos sabemos que só se está
atrasado quando ainda não se chegou ao destino.
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