segunda-feira, 14 de maio de 2012

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Demorei um considerável período de tempo a voltar a dar com a entrada para o wonderland. O problema relacionou-se com a dificuldade em encontrar o coelho guia (toda a gente sabe que se encontra o wonderland seguindo o coelho e deixando-nos cair num buraco) devido à epidemia que matou setenta por cento dos coelhos desta terra e deixou os pastos enfeitados de pequenas nuvens brancas que depois ao perto são carcaças putrefactas.
Farta de esperar pelo coelho decidi-me a seguir uma vaca. Estranhamente, ou talvez nem tanto, nestas coisas do realismo mágico uma vaca tem tantas capacidades como um coelho e satisfaz os mesmos propósitos.
À porta bebi toda a aguardente de medronhos que roubei no Alentejo mas apenas para descobrir que aqui não produz efeitos mágicos. Uma acolhedora lagarta explicou-me que, por estes lados, a password passa pelo óleo de baleia. Azul.
Fiz uma improvável amizade com um homem que desconfio que seja o chapeleiro louco. Não comete a extravagância de usar um chapéu denunciador – aqui as coisas não apenas também não são aquilo que parecem como até são sempre o oposto daquilo que parecem – mas usa camisas de mariachi com coloridas meias de riscas e calças de ganga com forros de flores. Não usa matracas mas toca contra-baixo.
Sentámo-nos numa mesa de tábuas corridas a beber cerveja preta e a comer bifanas em pão pita enquanto ele me fez um interrogatório para se certificar que não sou uma infiltrada ao serviço da rainha de copas. Presumo que passei no teste já que fui convidada para uma importante reunião secreta onde estarão todos os elementos subversivos do reino.
Ainda lhe perguntei se me poderia fornecer um suplemento de óleo de baleia mas, indignado, apressou-se a dizer-me que só trafica droga.

2 comentários:

  1. Já não bebo desse chá há algum tempo, mas os resultados continuam ao mais alto nível.

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