domingo, 26 de junho de 2011

disarm



chegou e ela já tinha a armadura completa. espada embainhada. e inteira reluzia, sentada ao espelho.

ele sorriu, franco. ela não disse nada. mas pediu com olhos que ele lhe escovasse o cabelo. tirou o elmo. devagar. e deixou que ele o fizesse como quis. porque ela só queria fechar os olhos e esquecer por um pouco as tantas feridas que em cicatrizes não se transformavam, sempre em chagas permanentes, que nunca saravam e voltavam a sangrar vezes demais. estava exausta de as lavar em alfazema. de as untar com mel. de as esconder nas tiras de linho. exausta de lhe doerem constantemente debaixo das placas de ferro. e estas: cada vez mais pesadas.

com o deslizar da escova, entre dois arrepios de gozo, pensou se valeria assim tanto a pena viver couraçada para proteger um coração tão rasgado. se o exibisse entre os trapos de uma mortalha de mendigo nem iam dar por ele, tal o seu estado. pelo que entre o andrajo e o peso do ferro, imaginou a sua vida dentro do primeiro. e teve uns segundos de pura alegria.

3 comentários:

  1. entre um andrajo e uma armadura polidinha sabes bem que só a última é uma escolha honesta.

    Cuca

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  2. Ou muito me engano ou num dos meus impulsos censores, proibi-me a mim própria de comentar este blogue...

    Cuca

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  3. deixa estar que eu transmito à Santa Joana D'Arques.

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