quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Incapacidades

Uma mulher pode ter lido Tolstoi aos 13 anos, Nabokov aos 14, esmifrado Sartre inteiro. Ter-se apaixonado por Soren kierkgaard, decorado meio dicionário de mitologia grega, saber quem foram Keynes, Smith e até Havelmo. Conhecer as fases de Picasso, distinguir um Monet de um Manet, identificar as influências de Hieronymus Bosche em Miró, reconhecer de cor os quadros de Hopper. Ter decorado as capitais de 100 países. Visitado um número significativo deles. Saber que o filme os Americanos se baseou num livro de Raymond Carver. E que Hitchcock dava cabo da cabeça às suas actrizes. Ligar o conceito de alavancagem aos mercados financeiros. Compreender os motivos pelos quais o cross euro-dolar já deu o que tinha a dar em matéria de Forex. Saber o que é uma operação reverse stock split. Conhecer os melhores restaurantes de take away de Lisboa. Fingir na perfeição que o jantar foi cozinhado por si. Não ficar imune às vantagens do linho egípcio. E explicar de cor o processo de construção do tapete de uma auto-estrada, analisando a problemática do betuminoso. Dissertar sobre a relação entre a teoria da poison tree a desconfiança no sistema judicial. Pode tratar por tu as leis dos homens. As nossas e as dos outros. E ainda as leis do karma. Identificar um Puccini ao segundo décimo. Saber a diferença entre o Bruegel pai e o Bruegel filho. Conhecer o nome de vinte ossos do corpo humano. Conseguir adaptar um medicamento para o reumático aos sintomas da gripe. Reconhecer uns Jimmy Choo estejam em que pés estiverem. Ser uma detectora humana de candonga de luxo. Ter capacidade para perguntar onde fica a casa de banho em sete línguas diferentes.

Mas do que lhe servem estas coisas todas, quando está em casa cheia de calor e não consegue descobrir como se colocam duas pilhas no comando do ar condicionado?

5 comentários:

  1. Grande spin out!
    Wilkommen to the wildeste hour, Kuka!

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  2. Cuca@ No máximo, resolvia-se o problema da roupa. Já o comando exige literatura científica. Ou manual de instruções, é como lhe quiser chamar.

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  3. "Literatura científica" faz-me sentir menos burra.

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