Estava calor e ambos tínhamos a agenda do dia em branco. Sorteámos piscinas. Saiu-nos a dele.
Na única vez em que eu tinha estado naquela casa, havia um cão. Estes homens têm sempre uma história com um cão vadio que um dia os adopta em plena rua. Por sorte, é sempre um cão de raça que já vem educado e se adapta aos movimentos do dono como se tivesse nascido dele. Escondi a impressão que me causou a inesperada combinação do bom gosto com a humanidade da sala. O cão fez bem o seu trabalho. Foi buscar a trela e pousou-ma nos joelhos. Para me tentar convencer que também eu fazia parte do cenário.
Naquela noite de conveniente calor de Abril – estes homens até parece que mandam aquecer as noites à medida das suas conveniências – não lhe passou despercebida a hesitação que me arrancou a simplicidade de um passeio por entre casas e campos de golfe, com um cão pela trela. O fascínio de uma vida normal a acenar-me ao fundo da rua.
Desta segunda vez, ele não fez por menos. Há homens que não jogam para perder. Atrás do cão, que logo que me abriram a porta do carro saltou para o meu colo, vinha uma criança. Daquelas iguais às dos filmes. Que nos dão imediatamente a mão e nos perguntam se nos importamos de as ensinar a nadar.
E nós não nos importamos mesmo nada. Mas depois há um momento em que desconfiamos da autoconfiança da miúda e lhe viramos as costas na piscina para descobrir que sabe nadar melhor do que nós.
O papá, pensou que eu ficaria feliz se ela fingisse que me deixava ensiná-la a nadar. E o papá, claro, tinha razão. Eu fiquei feliz.
Como também fiquei feliz quando o papá nos chamou para o almoço na varanda. Onde a música era tão perfeita como o gin tónico. E como a miúda, a pedir-me uma trança com a escova da Barbie na mão. Como o cão, deitado aos meus pés, demasiado bem-educado para pedir pedaços de pizza. Apesar de ainda há quatro meses ser um cão vadio.
E nem sequer faltou a siesta com a criança devidamente agarrada ao meu pescoço e o papá a controlar o sol.
Como se eu sempre tivesse lá estado. Como se, neste momento, devesse lá estar. Até parece que, em parte, ainda lá estou.
E quando no final do dia se meteram todos no descapotável e me guiaram entre casas e campos de golfe até à entrada da auto-estrada, pai, criança e cão ficaram a acenar-me ao longe até eu desaparecer no alcatrão.
E ouvia-se Puccini no meu carro. E eu fiquei a pensar que tudo o que eu procurei na minha vida poderia resumir-se àquela exacta sensação. Se eu pudesse, ao menos, substituir o pai por um que fosse verdadeiro…
Arrasa. Encanta.
ResponderEliminarQuem é esta gente!?
Dangerous people...
ResponderEliminar