Na homilia de hoje, o Padre Flávio de todos os tunnings, falou-nos sobre a certeza e os seus perigos e armadilhas, garantindo-me, olhos nos olhos, como se apenas os dois estivéssemos na igreja, que a certeza é o pior de todos os pecados. Sucede que as certezas - a relativa, a absoluta e sobretudo a certeza possível - são a pedra prima do meu ofício e, por isso mesmo, fui dominada pelo pânico e pela vergonha quando cogitei que o Padre Flávio pudesse ter descoberto o meu segredo e toda a homilia fosse um processo de desaprovação pública por parte do meu novo povo. Com medo de ser cancelada, ainda ensaiei o suborno con uma esmola despropositadamente alta que só serviu para criar desconfianças no bom Pastor.
Fui a primeira a sair.
Cá fora, o vento demoníaco espalhou a areia da praia que me entrou nas narinas e nos ouvidos e como uma mão imaginária no meio das costas empurrou-me até casa.
Fui encontrar o capitão Strut em frente de um tabuleiro de xadrez, a ouvir Django Reinhardt e logo partilhei as minhas preocupações.
- Não vais nada ser cancelada. Não vês que o teu padre plagiou um sermão do “Conclave”?
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