domingo, 13 de dezembro de 2015

Espelhos

Lavámos com a água da chuva o pó da estrada. Amordaçámos o som do piano. Rasgámos muitas páginas de antigos livros. Apagámos um ou outro arco-íris. No velho pátio a oriente ardeu devagar um espólio esquecido. O vento diluiu as cinzas sem as devolver. 
Sepultámos as ruínas sob a insignificância.
E a terra girou lenta alheia ao sacrifício das coisas nossas.
Os homens continuaram a nascer e a aprender as letras e a fazer a guerra. 
Trouxeram-nos outras chuvas e músicas e poemas.

Sobreviveu no espelho do foyer a breve memória de um crime.
Mas se do amor ou da sua aniquilação é coisa que já ninguém lembra. 

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