quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Do tédio

Amanhã e depois e ainda no dia seguinte e no outro e no outro. Sobe a lua, desce a noite, cai o dia. O oceano avança e recua. Os rios obedecem a um ritmo que não é seu. O tempo é um artifício inventado para incutir a falsa sensação de movimento. Na verdade, somos tão imóveis como as rochas. Apenas sujeitos à lentíssima erosão dos elementos. 
A eternidade é este tédio milenar. O crescimento silencioso de uma unha partida. O declínio discreto de uma papoila. O alastrar impercetível daquela mancha na pele. A tecla gasta do piano. A sombra do esquecimento que vai deslizando pela parede. 


2 comentários:

  1. E, porém, choram-se as perdas. As interrupções mais ou menos inesperadas desse tédio. Desejamos, de repente, não lhe escapar.

    Boa noite, Cuca.

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