segunda-feira, 29 de junho de 2015

O poder que importa



O privilégio dos tecelões da arte é o poder supremo de induzirem emoções. Assim como Hana Moravá, que um dia, não sei se de manhã ou de tarde, se triste ou alegre, tirou esta fotografia para que entre milhões de outras surgisse diante dos olhos de alguém que nunca conhecerá e conseguisse produzir esse inexplicável milagre da emoção.

6 comentários:

  1. Será privilégio ou sina? Herberto sabia-o (daí as controversas edições limitadas). E se quiser criá-las apenas de forma direcionada? Ou limitada no tempo? Eu acho que o criador está condenado a perder o controlo do que cria. Maravilhosamente terrível hipótese.

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    1. Tenho para mim que essa falta de controlo, o como diz o Mak no comentário abaixo, a garrafa lançada ao mar, é a suprema finalidade da arte.

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  2. Ele escreve uma mensagem e coloca-a dentro de uma garrafa. Atira-a ao mar, desejando que, por obra do destino, ela chegue à pessoa a quem se destina.

    Contudo, um dia a maré traz a mensagem até outro alguém que, ao vê-la, sente-se feliz por haver quem seja capaz de sentir assim e lhe causar tanta emoção, mesmo não sendo ela a destinatária da mensagem.

    Se o autor soubesse, ficaria feliz por saber que pelo menos trouxe algo inesperado à vida de alguém ou, não sendo o destinatário pretendido, o efeito perdeu-se algures entre as ondas do mar?

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    1. Gosto de pensar que os escritores, por exemplo, escrevem precisamente para que os leia. É uma interpretação egocêntrica, mas a única que faz verdadeira justiça ao artista.

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  3. O direito que assiste ao artista, mina cara Pirata, é o de ser o primeiro ainda que único e na solidão assim mitigada, a emocionar-se com a sua criação. Não sei se os artistas contemporâneos criam para emocionar os outros, mas muitos outros artistas fizeram arte para terem a companhia de uma emoção que fosse. Amor, raiva, solidão, contemplação (será uma emoção?), o poderoso medo e a ainda mais poderosa esperança.

    Tinha só para mim até hoje, porque a Pirata puxa-me pelas entranhas até à ponta dos dedos, que o artista cria somente para si mesmo sentindo-se ingloriamente incompreendido quando não recebe a mais humana das emoções - a empatia de outro ser humano.

    Que criação ingrata será essa que tem de atravessar desertos de imensidões temporais até que um dia alguém longe, inexistente ainda, diga "é mesmo assim que eu me sinto", "que azul fantástico", "que luz", "fico à beira das lágrimas".

    Tecemo-nos uns aos outros quando o criador já não se encontra entre nós?



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    1. Não tem de atravessar desertos. Mas é um privilégio do criador, quando atravessa.

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