sábado, 6 de junho de 2015

E pode-te matar uma guitarra

1964

I

Perdeu magia, o mundo. Abandonado 
Já não partilharás a clara lua 
Nem os lentos jardins. Já não há uma
Lua que não reflicta algum passado,
Cristal de solidão, sol de agonias.
Adeus às mútuas mãos, adeus às fontes
Cercadas pelo amor. Hoje só contas 
Com a memória nos desertos dias.
Ninguém perde (repetes futilmente) 
Senão o que não tem e não vai tendo 
Nunca; porém, não basta ser valente 
Para a arte aprender do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa é o que te agarram
E pode-te matar uma guitarra.

II
(...)

Jorge Luis Borges, Obras Completas, II

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