As férias grandes chegaram ao fim e no sítio onde estou não posso contar com a mudança das estações para me situar no tempo. Deve ser por isso que não me lembro se aí já chegou a primavera. Passei boa parte das férias sentada na soleira da porta a contar as moscas que passaram. Ganhei um estanho bronzeado, uma tatuagem da planície na íris e melhorei o meu raciocínio aritmético. Na outra parte dos dias de ócio, saqueei o muro de Berlim e adoptei o sapo kosher que agora ocupa o lado direito da minha cama. Para me salvar de intrusos. Espero que os sapos se alimentem de insectos. São duas longas histórias.
Aqui não me posso sentar na soleira da porta. Fico mais bonita engomada, de pernas cruzadas, no sofá da sala, com uma chávena de chá de camomila entre as mãos. O serviço é de porcelana, não te preocupes. Também se ouve o som do trote de cavalos mas eles agora dirigem-se sempre para outra direcção. Nas primeiras vezes, cheguei a achar que tinha enlouquecido de saudades da planície. Estranho como o nosso juízo é mais resistente do que aquilo que conseguimos acreditar.
Entre uma coisa e outra passei uns dias num sítio que ainda se parecia vagamente com Lisboa. Sobre isso, nada. Os cemitérios continuam movimentados e as flores apodrecidas.
Li muitos livros. Nenhum escrito por ti. Nenhum escrito por algum dos nossos amigos.
No final de Agosto, um médico receitou-me a amnésia e eu comprei-a na farmácia. Deixaram-me ficar com as memórias da família e dos amigos. Isso e um último caso insignificante que estou decidida a guardar na alma como se fosse uma grande história de amor.
Li qualquer coisa parecida em Miguel Cervantes.
Tu percebes. És o tipo dos moinhos. Tens de perceber.
Vou fazer a mala e apanhar o próximo avião para o jantar das nove. Aqui marcam-se os jantares com os horários dos aviões sobre a mesa. É giro. Parecemos todos muito nova iorquinos, enfiados nestas pequenas rochas.
Dei-me conta que não sei nada de ti há mais de sessenta dias.
São demasiadas horas. Não me faças esperar.
O médico fanático está decidido a exterminar todos quantos me causem a mínima ansiedade. Não gostaria nada de me esquecer de ti.
Aqui não me posso sentar na soleira da porta. Fico mais bonita engomada, de pernas cruzadas, no sofá da sala, com uma chávena de chá de camomila entre as mãos. O serviço é de porcelana, não te preocupes. Também se ouve o som do trote de cavalos mas eles agora dirigem-se sempre para outra direcção. Nas primeiras vezes, cheguei a achar que tinha enlouquecido de saudades da planície. Estranho como o nosso juízo é mais resistente do que aquilo que conseguimos acreditar.
Entre uma coisa e outra passei uns dias num sítio que ainda se parecia vagamente com Lisboa. Sobre isso, nada. Os cemitérios continuam movimentados e as flores apodrecidas.
Li muitos livros. Nenhum escrito por ti. Nenhum escrito por algum dos nossos amigos.
No final de Agosto, um médico receitou-me a amnésia e eu comprei-a na farmácia. Deixaram-me ficar com as memórias da família e dos amigos. Isso e um último caso insignificante que estou decidida a guardar na alma como se fosse uma grande história de amor.
Li qualquer coisa parecida em Miguel Cervantes.
Tu percebes. És o tipo dos moinhos. Tens de perceber.
Vou fazer a mala e apanhar o próximo avião para o jantar das nove. Aqui marcam-se os jantares com os horários dos aviões sobre a mesa. É giro. Parecemos todos muito nova iorquinos, enfiados nestas pequenas rochas.
Dei-me conta que não sei nada de ti há mais de sessenta dias.
São demasiadas horas. Não me faças esperar.
O médico fanático está decidido a exterminar todos quantos me causem a mínima ansiedade. Não gostaria nada de me esquecer de ti.
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