sexta-feira, 15 de julho de 2011

Das despedidas (mais uma outra vez)

Não há tarefa que a prática não aperfeiçoe.
Desta vez, não me acantonei cobardemente no meu gabinete à espera que o edifício se esvaziasse para, finalmente, fazer uma deprimente marcha do adeus, durante a noite e sozinha, pelos corredores vazios de gente até à sala reduzida à sua real significância.
Também não lhes dei oportunidade de me encurralarem numa visita surpresa colectiva, apanhando-me entre dois telefonemas e um e-mail, dentro daquele espaço onde, por ser a minha área de segurança, mais facilmente me conseguem fazer deslizar para a proibidíssima exibição de emoções.
Fiz os exercícios respiratórios que me ensinaram, tranquei no rosto um plácido sorriso Gioncondiando e caminhei segura e decidida até aos lugares deles. Distribuí apertos de mão, agradecimentos pela infinita paciência, votos de um resto de vida cheio daquilo que lhes apeteça e a coisa correu-me tão bem que ainda consegui ameaçá-los com o meu regresso.
Depois, terminei como sempre me disseram que deveria ter começado.
Entrei na sala grande e, invertendo posições, sentei-me no lugar que destinam àqueles cujos destinos me entregam.
É um exercício perigoso e pouco recomendável a quem nasceu com a limitação da incapacidade de acreditar na milagrosa orientação divina.

Ao contrário do que dizem, só deve ser feito à saída.
Abandonei o edifício, em paz comigo própria e convencida que, apesar de tudo, este ano falhei menos.
Agora, que este povo já não é meu e o próximo ainda não me conhece, estou pronta para me estender na praia à sombra da tranquilidade de ser apenas uma mulher.

1 comentário:

  1. a itinerância dá a generosidade do desapego. na franqueza do inevitável.

    mas o apego, ele próprio, tenciono guardar para mim própria. para aquelas almas que engulo. num gáudio egoísta.

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